Entre os dias 22 e 24 de julho, mais de 60 delegadas e delegados de movimentos populares de 17 países da América Latina e do Caribe se reuniram em Caracas, na Venezuela, para discutir os rumos das lutas populares frente à crise do capitalismo e ao avanço das direitas na região. A atividade foi organizada pela Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) Movimentos e aconteceu na Escola Robinsoniana do Frente Francisco de Miranda, um espaço de formação política ligado à tradição bolivariana.
Um dos momentos centrais da reunião foi a apresentação da proposta de realização da IV Assembleia Continental da Alba Movimentos em Cuba. A proposta foi debatida como uma oportunidade estratégica para unificar pautas e projetar uma agenda de lutas para todo o continente. “Não podemos permitir que a assembleia seja um evento mais. Tem que ser um marco político com horizonte claro de integração desde e para os povos”, defendeu María del Carmen Barroso, do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP).
As delegações ressaltaram que a assembleia deve promover a entrada de novos movimentos, aprofundar a articulação com outras alianças regionais e fortalecer ações concretas de solidariedade ativa com Cuba, Venezuela e Haiti – tratadas como trincheiras de resistência frente ao imperialismo.
Disputa ideológica e desafios à integração popular
O encontro marcou uma nova etapa de articulação continental e incluiu uma agenda intensa de debates. A abertura focou na análise da crise sistêmica do capitalismo global, com ênfase na transição econômica e nas lutas antipatriarcais, anticoloniais e anti-imperialistas.
Em seguida, os participantes realizaram um balanço político da conjuntura latino-americana. O objetivo foi construir um diagnóstico comum sobre o momento vivido pelos Estados da região, caracterizado por uma alternância entre governos progressistas e conservadores, em um contexto de fragilidade dos processos de unidade e maior ofensiva da extrema direita.
A disputa ideológica ocupou lugar central na programação e foi abordada como um embate entre projetos de poder. Delegadas e delegados alertaram para a distorção das ideologias em curso: “qualquer crítica ao capitalismo é confundida com fascismo, e qualquer proposta de justiça social é tachada de comunismo”, resumiram em uma das sínteses coletivas. O crescimento do evangelismo como expressão de um novo fundamentalismo político de base religiosa também foi tratado como elemento de preocupação.
Nesse cenário, reforçou-se a ideia de que a batalha de ideias não se limita ao plano argumentativo, mas precisa estar ancorada na construção de poder material. “É também construir fatos, resultados, poder econômico e relações sociais que reflitam nossa concepção de mundo”, afirmou Manuel Bertoldi, da coordenação política da Alba Movimentos, retomando ensinamentos de Fidel Castro sobre a centralidade das estruturas na disputa ideológica.

O venezuelano Hernán Vargas, do Movimento de Pobladores (Movimento Sem Teto), resgatou o nascimento da articulação continental impulsionada pela Alba Movimentos a partir da derrota do projeto neoliberal representado pela Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em 2005. Para ele, o momento atual é marcado por uma ausência de hegemonia clara e pela dificuldade de articulação regional. Vargas também apontou que parte da esquerda tem se limitado à defesa do Estado liberal burguês, o que restringe sua capacidade transformadora.
A pauta do encontro incluiu ainda discussões sobre o racismo estrutural e a importância de reconhecer as revoluções no Caribe como parte das lutas históricas dos povos afrodescendentes. Essa perspectiva foi apresentada como chave indispensável para compreender tanto os desafios atuais quanto a trajetória da resistência popular na região.
*Com informações de Florencia Abregú.