São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os três estados brasileiros que mais exportam produtos para os Estados Unidos, país que anunciou que taxará em 50% compra vinda do Brasil a partir do dia 1º de agosto. Ceará, Espírito Santo e Sergipe, entretanto, são os estados que mais dependem dos EUA para exportar e, por isso, podem ser os mais prejudicados pelo tarifaço.
É isso o que indica um estudo produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O levantamento do Dieese usa dados oficiais sobre as exportações brasileiras para os EUA realizadas entre janeiro de 2024 e junho de 2025 para indicar eventuais efeitos regionais das medidas impostas por Trump. Os EUA é o segundo maior comprador de produtos brasileiros, atrás da China. Em 2024, a nação estadunidense comprou 40 bilhões de dólares do Brasil. Isso é cerca de 12% de tudo o que o Brasil exportou no ano.

O estudo do Dieese destaca a importância de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais nesse cenário. Segundo o órgão, os três estados juntos respondem por 62,3% de toda exportação brasileira para os EUA: São Paulo exporta 33%; Rio, 17,5%; e Minas, 11,5%.
No caso de São Paulo, especificamente, os produtos mais exportados são reatores e caldeiras, aviões e combustíveis. De toda exportação paulista, 19,1% vai para os EUA.
No Rio, este percentual cai para 15,8% e, em Minas, 11,1%.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), chegaram a culpar Lula pelo tarifaço. Diante da má repercussão de suas falas, eles recuaram e passaram a criticar Trump.
Abaixo a tabela com os estados com maior participação nas exportações para os EUA, de janeiro de 2024 a junho de 2025.

Maior dependência
De acordo com o Dieese, o Ceará é o estado brasileiro que mais depende dos EUA para exportar. Apesar de ele responder por somente 2% de toda exportação nacional para os EUA, 47,8% do que o estado vende para fora vai para a economia estadunidense.
O que o estado mais vende é ferro fundido, peixes e calçados.
Um estudo do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), ligado ao governo estadual, sugere que parte desses produtos sejam enviados a outros países caso o tarifaço realmente entre em vigor. O documento, porém, reconhece que isso não seria simples.
“Considerando a relevância das exportações para os Estados Unidos na pauta do estado do Ceará, especialmente, devido a elevada concentração nas vendas do setor de Ferro fundido, ferro e aço para esse país, a solução pode não ser tão trivial, caso essa medida venha a ser realmente implantada, exigindo maior esforço de estratégia comercial por parte do estado”, diz o texto, publicado no dia 15.
Um dia antes, o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), se reuniu com representantes do setor produtivo cearense para tratar do tarifaço, “manter a competitividade das empresas” e “garantir os empregos para os cearenses”.
Em segundo lugar no ranking de dependência elaborado pelo Dieese vem o Espírito Santo. Lá, 30,2% das exportações estaduais vão para os EUA. Sergipe aparece em terceiro lugar, pouco à frente de São Paulo, com 21,2% das exportações para os EUA.
O Espírito Santo criou um comitê para discutir o tarifaço. O Sergipe destacou que os EUA são o segundo maior comprador de produtos do estado, atrás da Holanda. Ainda assim, está elaborando medidas para apoiar empresas sergipanas por conta do tarifaço. Estuda, por exemplo, ampliar o uso do suco de laranja –segundo produto mais exportado pelo estado aos EUA– na alimentação escolar como forma de estimular o consumo interno e fortalecer a cadeia produtiva local.
Além disso, a equipe econômica do governo está elaborando medidas de apoio ao setor, que devem ser anunciadas em breve. Entre elas, estão linhas de crédito subsidiado, incentivos fiscais e outras ações para aliviar os custos enfrentados pelos produtores de citros, especialmente neste momento em que o setor se mostra o mais crítico da nossa cadeia produtiva.

Em busca de soluções
Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, afirmou ao Brasil de Fato que parte das soluções para reduzir o impacto do tarifaço sobre a economia nacional passa mesmo por redirecionar a exportação do país para fora dos EUA. “A tarifa de 50% é uma taxa de inviabilização do comércio. É muito alta”, afirmou ele. “Precisamos saber como realocar os produtos.”
Segundo ele, apesar de serem menos dependentes dos EUA, no caso de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, essa realocação é mais difícil. “São exportados muitos reatores e máquinas. Isso está ligada a uma demanda muito ajustada da cadeia”, diz. “Acredito que São Paulo e Rio de Janeiro teriam mais problemas com as tarifas.”
Para Cantelmo, considerando essa lógica, Ceará e Sergipe, por exemplo, encontrariam alternativas mais viáveis para realocar suas exportações. “São peixes, calçados, combustíveis. Fica mais fácil redirecionar”, explicou.
O economista Eric Gil Dantas, membro do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), confirma a lógica. Ele ressaltou que 52% da exportação de Sergipe são de petróleo, que podem facilmente ser redirecionadas. “Enquanto, para São Paulo, a situação é mais difícil, com exportação suco de laranja e aviões”, acrescentou.
Cantelmo ressaltou que parte do suco de laranja ou mesmo o café que hoje vai para os EUA pode acabar sendo consumido no próprio país, reduzindo preços internos. Para Cantelmo, a pujança do mercado nacional não pode ser ignorada na busca por soluções para os impactos do tarifaço.
“Em Minas Gerais, a corrente de comércio do estado com o mercado interno é três vezes maior que a corrente de exportações. O mercado interno é importante”, disse.
*Matéria atualizada às 10h30 do dia 25 para inclusão de informações enviadas pelo governo de Sergipe sobre sua reação ao tarifaço.