O Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) tem na juventude um trunfo para as eleições municipais do próximo domingo (27). Isso porque o pleito será realizado de maneira simultânea com a Consulta Popular da Juventude. A aposta é que a mobilização em torno de projetos escolhidos pelos jovens dê protagonismo político para esse grupo e funcione como uma plataforma também para os candidatos chavistas.
A lógica é simples: jovens de comunas vão votar por projetos que receberão investimentos do governo para serem executados. Ao todo serão 5.338 projetos votados. Eles serão votados no mesmo modelo das consultas populares, já que serão realizados somente em comunas venezuelanas.
Cristian García é porta-voz da comuna Edgar Rodríguez no estado de Lara e entende que a consulta traz um protagonismo político para a juventude, mas reforça a intenção do governo de transferir poder para as comunas.
“É uma consulta que está sendo realizada pela primeira vez na Venezuela. É algo histórico, porque os jovens estão apresentando as propostas de acordo com as necessidades do nosso território. Com isso, nos organizamos para formular essas propostas. São propostas coletivas para solucionar nossos problemas. A participação dos jovens é para sedimentar as bases desse processo bolivariano e, principalmente, do Estado Comunal”, afirma ao Brasil de Fato.
As comunas são uma nova forma de organização social baseada na autogestão e com diálogo permanente com o Estado. Elas, inclusive, têm prioridade na transferência de recursos e não precisam ficar restritas a um Estado ou município, ou seja: uma mesma comuna pode abranger mais de uma cidade.
A ideia de um Estado Comunal passa pela gestão do Estado por uma Federação Comunera, que seria uma estrutura que reúne as comunas do país. O objetivo é que o governo seja administrado de baixo para cima, no qual a decisão dos conselhos comunais teriam peso na decisão coletiva da Federação.
A eleição deste domingo será a terceira em um ano e vai escolher 335 prefeitos e 2.471 cargos de vereadores.
Depois de conquistar o pleito presidencial em 2024 e ter uma vitória acachapante na disputa entre governadores e deputados, o partido do presidente Nicolás Maduro tentará uma vantagem expressiva nos municípios para consolidar o governo e conseguir não só implementar políticas integradas entre governos e municípios, mas também para legitimar os processos eleitorais em três esferas: nacional, estadual e municipal.
A interseção entre as votações para prefeitos e projetos é uma estratégia do governo para alavancar não só candidaturas socialistas, mas também ampliar a participação em torno de uma política encabeçada pelo chavismo.
O presidente da Assembleia Nacional e chefe do comando de campanha, Jorge Rodríguez, afirma que há uma mescla entre a democracia representativa e a democracia participativa, com a votação para candidatos e a escolha de projetos pela população.
“Não é uma eleição como aquelas que você está acostumado a ir às urnas todos os dias. Pela primeira vez, duas maneiras de ver a democracia estão se unindo. De um lado, a democracia, digamos, representativa, a democracia que em algum momento terá que ser substituída pela verdadeira democracia, que são as eleições para prefeitos e vereadores. Do outro, a participativa, com a escolha do investimento que será feito pelo Estado”, disse.
A mobilização dos jovens em torno das eleições terá resultado direto na participação para essas eleições. Para Garcia, há dois fatores. O primeiro é a motivação do jovem em participar e escolher um projeto que fará diferença para sua comuna. O segundo é a influência que ele tem sobre a família.
“Essa consulta da juventude nos ajuda a ter uma maior participação nas eleições de prefeitos e vereadores. Aquele jovem que tem 15 anos de idade e vai participar da consulta acaba levando seus familiares para votar e acaba motivando essa participação. Então os jovens impulsionam os adultos”, afirmou.
Ao todo, serão 15.731 seções eleitorais com as duas estruturas. Primeiro, os eleitores votam para prefeitos e vereadores. Depois, os jovens de 15 a 35 anos vão a uma segunda sessão eleitoral para escolher um projeto entre os sete disponíveis em cada circuito comunal.
Para o governo, outro ponto importante é manter as comunas mobilizadas em um dia de eleição. As comunas são os espaços onde se desenvolvem algumas das principais ideias do ex-presidente Hugo Chávez para um projeto de país com uma democracia participativa e a atuação direta da população na resolução de questões da vida em sociedade.
Por terem sido concebidas pelo ex-presidente, as comunas venezuelanas têm hoje uma proximidade maior com os debates da esquerda e tendem a ser o epicentro da militância chavista na Venezuela.
“A comuna é a principal via para a construção do novo Estado. É a base fundamental, é a célula onde vai nascer o socialismo. As consultas têm sido uma forma de protagonismo que o governo dá para as comunas. A cada três meses temos uma consulta em que o próprio povo resolve seus problemas, mas ainda falta transferência de poder porque muitos territórios se sentem tutelados por governadores. Falta essa transferência de competência plena em termos de serviços, economia e segurança”, disse Garcia.
Desde o ano passado, foram realizadas cinco consultas comunais para escolher projetos que receberam US$ 10 mil (R$ 56 mil) para serem executados. Os projetos escolhidos pela consulta da juventude também receberão esse montante. De acordo com o presidente Nicolás Maduro, é possível que o governo suba o número de projetos escolhidos para 10.300.