O Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no estado de São Paulo, lançou recentemente uma política institucional voltada ao atendimento de pessoas trans, travestis, intersexo e não-binárias. A nova diretriz prevê medidas como o uso do nome social, a acomodação adequada ao gênero da pessoa atendida e a capacitação continuada das equipes de saúde desde o primeiro contato na recepção até a alta hospitalar.
“O principal impacto é a garantia de direitos dessas pessoas, […] institucionalizar um cuidado mais humanizado”, afirma Isabela Cristina Nogueira, enfermeira e mestre em Ciências da Saúde e integrante do Grupo de Trabalho de Diversidade e Humanização do HC. “Essa política direciona tanto as nossas ações enquanto profissionais, mas também pensa na estrutura hospitalar, no cuidado assistencial, na organização gerencial desse hospital”, explica, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Apesar de o HC já contar com ambulatórios específicos, como o de gênero, o atendimento da população LGBT+ ainda enfrentava barreiras nos demais setores. A política surge para responder a esse desafio e, segundo Nogueira, é resultado de um processo coletivo, motivado por um episódio classificado como “evento sentinela”, um caso que revelou lacunas na abordagem da diversidade por parte das equipes de saúde.
“É até complicado falarmos [do caso que motivou a iniciativa] enquanto uma violação de direitos, quando as nossas equipes não sabem quais são os direitos dessa pessoa. […] Não sabíamos como conduzir esse caso justamente por faltar discussão”, indica. A política foi construída por um grupo interdisciplinar de profissionais voluntários e contou com apoio da gestão do hospital e da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Unicamp.
Primeiro passo
A pesquisadora acredita que a proposta, que já está disponível ao público, pode inspirar outras instituições de saúde. “Essa política está divulgada e estamos completamente à disposição para conversar e colaborar com outras instituições para que essa política sirva de exemplo mesmo para os hospitais universitários”, diz.
Para Nogueira, hospitais universitários têm papel central na luta contra a transfobia e na promoção de uma saúde integral. “A saúde é muito mais ampliada. […] O hospital universitário tem o mesmo papel da universidade de avanço nos direitos humanos. Um papel social importante, de garantir que os princípios e diretrizes do SUS [Sistema Único de Saúde] sejam aplicados”, defende.
Ela destaca ainda que a política é um ponto de partida para ações mais amplas. “Dizemos que a política foi só o primeiro passo, uma primeira abordagem quanto ao tema de diversidade, mas a ideia é que possamos trabalhar questões de gênero, de raça e de classe, que estão nas nossas relações cotidianas”, aponta.
A iniciativa está alinhada a outras medidas adotadas neste ano pela universidade, como a aprovação de cotas para pessoas trans, travestis e não-binárias em seus processos seletivos.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.