A Casa Poéticas Negras volta à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2025, agora como parte oficial do programa “Casas parceiras”. A programação do espaço destaca narrativas negras, indígenas, LGBT+ e femininas, com nomes como Andreone Medrado, coordenadora do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (USP). Também está previsto o encontro da escritora Conceição Evaristo com o escritor angolano Ondjaki, dividindo o palco pela primeira vez.
“É um reconhecimento extremamente potente ser uma das 25 casas parceiras do evento. Acaba levando a luta por uma literatura real e que reflete o que é este Brasil: um Brasil negro, periférico, indígena, múltiplo”, afirma Ângela Damasceno, fundadora da Casa Poéticas Negras, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Criada em 2018, a casa atua durante o ano inteiro como um espaço não formal de educação em Paraty (RJ), com ações voltadas para a emancipação de comunidades vulneráveis. “Funcionamos o ano todo escutando o território. O que esse território tem para nos contar? Quais são as cores que atravessam esses corpos, que são caiçaras, quilombolas, indígenas, de negros periféricos?”, descreve Damasceno.
Ela classifica a presença de Andreone, travesti negra, como a representação de um “corpo dissidente, que pensa, escreve e transforma.” “A presença dela escancara o quanto a literatura precisa, urgentemente, passar por todas as existências”, afirma a organizadora. A escritora participa de duas mesas, uma sobre afetividade e outra sobre colonialismo.
A 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) acontece entre quarta-feira (30) e domingo (3), em Paraty.
Representantes de ‘um Brasil que não é contado’
A edição deste ano recebe lideranças como a artista indígena Eva Potiguara e a professora quilombola Joana Maria Bispo. “Olhamos para essas lideranças num sentido muito amplo, da história do Brasil que não é contada. […] Uma liderança quilombola como Brito traz um pouco do reflexo desse Brasil distante, com uma linguagem muito própria. A linguagem de Brito faz parte do Assentamento Terra Vista, e também dos povos”, diz. Já Potiguara, segundo Damasceno, “traz essa herança indígena dentro da autoria como uma escritora indígena, as óticas que ela carrega dentro da sua palavra, literatura, obra”.
O encerramento da casa será com o inédito encontro entre Conceição Evaristo e Ondjaki, em celebração aos 50 anos da Editora Pallas. “Conceição e Ondjaki trazem esse abraço do continente, esse encontro que pode conectar por meio de palavras nesse transatlântico, oceano que nos divide, esses históricos que traduzem essa África vibrante, esse Brasil rico, que bebe e se farta dessa fonte”, observa.
Ângela Damasceno reforça o papel da Casa Poéticas Negras como um projeto enraizado no território. “Nós existimos, resistimos, escrevemos […] a nossa própria história, o nosso próprio caminho. É esse verbo ‘aquilombar’. Tentamos que essa contribuição seja diária. A conjugação do verbo ‘aquilombar’ tem que estar entre os nossos para nos fortalecer e criar novas formas de novos mundos”, defende.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.