Pela primeira vez na América Latina, microplásticos foram detectados em cordões umbilicais e placentas de gestantes atendidas pelo SUS em Maceió (AL). O achado vem de uma pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em parceria com a Universidade do Havaí. Coordenador da pesquisa, Alexandre Borbely alerta para a gravidade dos resultados. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele destaca que a presença de partículas nos cordões, em quantidade superior às encontradas nas placentas, mostra que “a placenta não está barrando [os microplásticos], está deixando passar”.
“É a primeira vez que temos esse dado. […] Achávamos que eles iam para a placenta, ficavam retidos nessa barreira, que é muito boa, e não ultrapassavam. Mas esse nosso estudo agora […] mostrou essa passagem para o cordão umbilical”, explica. Segundo Borbely, o principal plástico identificado foi o polietileno, comum em embalagens e sacolas descartáveis, mesmo tipo que já aparece em altas concentrações nas praias e lagos da região.
A pesquisa, publicada na última sexta-feira (25) na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências, foi realizada com dez gestantes do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes e do Hospital da Mulher Dra. Nise da Silveira. As amostras foram analisadas por espectroscopia Micro-Raman, revelando 110 partículas de microplástico nas placentas e 119 nos cordões.
Embora os impactos diretos à saúde humana ainda estejam sendo investigados, Borbely ressalta que estudos com animais já indicam riscos ao desenvolvimento. “Qualquer coisinha que altere esse fino balanço […] vai alterar a formação desses órgãos. Seja uma alteração visível, seja uma alteração genética, molecular, que só vai aparecer depois de muitos anos”, alerta.
A Ufal já iniciou uma nova fase do estudo, com o objetivo de reunir 100 participantes e aprofundar a análise sobre possíveis vínculos entre a presença de microplásticos e doenças gestacionais. “A pesquisa brasileira consegue competir de igual pra igual fora [do país], só precisamos de investimento”, defende o pesquisador, que relata ter enfrentado dificuldades de financiamento até 2022, quando conseguiu avançar com os estudos.
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