Atos contra os ataques contra o Brasil desferidos pelo regime de Donald Trump nos Estados Unidos e em defesa da soberania nacional tiveram início nesta sexta-feira (1º) em várias cidades do país. A iniciativa “Quem manda no Brasil é o povo brasileiro! Contra o tarifaço de Trump” é uma parceria da União Nacional de Estudantes (UNE) com as frentes Brasil Popular e Povo sem Medo e outros movimentos populares
As manifestações desta sexta ocorreram em frente a representações diplomáticas dos EUA e no centro de capitais.
“O tarifaço se trata de uma ferramenta de chantagem comercial para promover os interesses dos Estados Unidos no nosso país. A anistia de Jair Bolsonaro (PL) e dos demais golpistas, o interesse contra a regulamentação das big techs, que é uma discussão que avança, a vontade de ter o nosso país submisso”, disse Bianca Borges, presidenta da UNE, ao Brasil de Fato.
“Se Donald Trump achou que nós ficaríamos de joelhos, nós respondemos de pé. Construímos um importante 10 de julho, um dia depois do anúncio das tarifas e agora estamos ocupando as ruas de todo o país nesse primeiro de agosto para dizer que, para nós, soberania não se negocia, que nós seguimos apoiando o Estado Democrático de Direito, o regular funcionamento das nossas instituições de acordo com a legislação brasileira e não de acordo com os interesses de Donald Trump e dos imperialistas do nosso país.”
“O Brasil já foi muito atacado por potências imperialistas ao longo da sua história. E, nesse momento, nós estamos aqui para dizer que não vamos aceitar mais essa tentativa de intervenção estrangeira no nosso país. O povo brasileiro rejeita o tarifaço. O povo brasileiro quer colocar Bolsonaro e os golpistas na cadeia.”
Veja abaixo a relação dos atos:

À reportagem, Milton dos Santos Rezende (o Miltinho), da direção executiva da CUT, disse que as reivindicações dos atos incluem, além da defesa da soberania nacional, o fim da escala 6×1; isenção do imposto de renda para até R$ 5 mil; taxação dos super-ricos; redução da jornada de trabalho; não ao PL da Devastação; contra a pejotização irrestrita; e o fim do genocídio em Gaza.
“É uma agressão a interferência no Judiciário brasileiro, uma interferência na soberania. O único país que teve elemento político colocado nas tarifas foi o Brasil. Não é uma questão só comercial. É uma intervenção na soberania do país”, disse ele.
“Alguns setores terão um pacto mais imediato, o caso da madeira, que é exclusivo para os Estados Unidos, e tem o ferro-gusa. Mas mesmo nesses casos, temos mecanismos de sobra para preservar os empregos por seis a oito meses sem ter necessidade de demitir. Defendemos a abertura de negociações com esse setores e o governo federal para buscar soluções que impediam o desemprego e o fim dessas empresas.”
Consulado
Em São Paulo, o ato pacífico ocorreu em frente ao consulado estadunidense, observados por dezenas de policiais militares. Militantes de inúmeros grupos gritaram palavras de ordem e queimaram um boneco de Donald Trump

Os atos foram marcados para esta sexta por ser o dia em que o tarifaço – aumento de 50% nas taxas para as exportações brasileiras para os EUA, com algumas exceções – entraria em vigor, antes de ser adiado para o dia 7 de agosto. Inicialmente, a alegação estadunidense foi a de que o processo judicial que investiga a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro na tentativa de golpe, após perder as eleições de 2022, configuraria perseguição.
O filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, deputado federal que está morando nos EUA, assumiu o louros por supostamente ter arquitetado as taxas contra o Brasil.

Eduardo Bolsonaro foi, portanto, um dos alvos dos protestos, por ter conspirado contra o país. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passou a usar o boné com slogan MAGA (Make America Great Again, ou Faça a América Grande Novamente, em tradução livre), também foi lembrado.

Mas a tentativa dos Bolsonaro de prejudicar o país para livrar Jair da prisão parece ter dado errado. O projeto de anistia, que tinha chances reais de aprovação na Câmara dos Deputados, foi tirado da pauta indefinidamente. A popularidade de Lula reverteu tendência de queda e a aprovação já supera a desaprovação, com a maioria da população considerando errado a tentativa de Trump de interferir na Justiça brasileira, segundo o Datafolha.
O governo Lula ainda tenta, por vias diplomáticas, negociar com os EUA para mitigar os efeitos do tarifaço. Analistas apontam que as taxas elevadas equivalem a sanções políticas e visam obter vantagens como acesso à terras raras – importantes para a indústria de tecnologia –, favorecimento de grandes empresas financeiras dos EUA com ataques ao Pix e a não regulação das big techs.