Extinto durante o governo Bolsonaro, o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) foi retomado durante o governo Lula. Nesta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato, mostra que, apesar de desafios orçamentários, segue transformando vidas e comunidades rurais em todo o país.
Criado há 27 anos a partir da luta de movimentos do campo, o Pronera é direcionado a jovens e adultos moradores de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), quilombolas, professores e educadores que exerçam atividades educacionais voltadas às famílias beneficiárias.

O agricultor rural Francisco Geraldo Simão é um dos beneficiados e está sendo alfabetizado aos 66 anos no Assentamento Cigra, no município de Lagoa Grande, interior do Maranhão. Após o trabalho nas roças, onde mantém plantios de feijão, mandioca e hortaliças, ele e outros jovens e adultos se reúnem para dar os primeiros passos no mundo das letras.
“Não tive oportunidade quando era novo, agora eu estou pegando a oportunidade enquanto eu estou velho. Agora eu quero continuar em frente os meus estudos para ver se eu tenho capacidade de aprender mais um pouco. Poucos meses que estou estudando, estou achando bom porque eu não sabia dizer algumas palavras, hoje eu estou sabendo e com a continuação eu quero aprender mais”, comenta, orgulhoso.
Há dois meses cursando as aulas da modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), Francisco se encanta com os novos aprendizados e garante tentar conquistar outros amigos da sua faixa etária no assentamento, entre uma colheita e outra. “Rapaz, mas nessa idade você vai estudar?”, é o que costuma ouvir como resposta de muitos deles.

Francisco retruca que, apesar da idade, o que tem aprendido já lhe rende frutos como a oportunidade de assinar o nome em documentos, entender melhor a burocracia de documentos e seus direitos.
“A oportunidade que apareceu para mim hoje, é hoje que eu vou aproveitar. Eu estou trabalhando e também estou estudando, a gente tem que correr atrás dos dois artigos bons para conseguir a vida”, explica.
Democratização do acesso à educação
Ao longo de 27 anos o Pronera já ofertou mais de 500 cursos e formou mais de 200 mil pessoas em diversas áreas do conhecimento. Contando atualmente com 48 cursos em andamento, o programa fortalece a luta pela reforma agrária por meio da educação e da garantia de direitos, como explica Clarice Santos, gestora nacional do Pronera.
“As pessoas que participaram desses processos formativos estão hoje Brasil afora atuando nas escolas, em equipes técnicas, nas cooperativas de produção dos assentamentos, enfim, esse é um valor produzido pelo Pronera, esse número de pessoas tem um enorme significado para o que é a reforma agrária hoje no Brasil”, explica Clarice.

As formações oferecidas pelo Pronera incluem alfabetização e escolarização de jovens e adultos no ensino fundamental e médio, além de capacitação e escolarização de educadores para o ensino fundamental e formação inicial e continuada de professores sem formação em áreas de reforma agrária, formação de nível médio, concomitante/integrada ou não com ensino profissional, curso técnico profissional de nível médio, formação de nível superior e pós-graduação lato e stricto sensu.
Ainda segundo Clarice, o Pronera contribui também para o fortalecimento da consciência das pessoas do campo em relação ao direito à educação e os movimentos que participam do progojeto e mobilizam os processos educativos cumprem com o papel de mobilizar, conscientizar e fazer com que essa consciência avance.
Ela ressalta que, após um período de desmonte durante o governo Bolsonaro, o Pronera passa por uma reestruturação. Um dos maiores desafios, segundo a gestora nacional do Pronera, é a recomposição orçamentária para garantir a continuidade dos cursos atuais e a abertura de novas turmas.
“O desafio orçamentário de financiamento dessa política segue sendo sempre um tema a ser tratado, a ser superado, mas também acho que temos hoje uma condição, pelos nossos 27 anos e pela nossa história, de construir todos os meios de superar os desafios que se colocam”, pondera Clarice.

Na linha de frente pela defesa do Pronera estão camponeses formados pelo programa, como Gilmar Felipe Vicente, do Sertão da Paraíba. Alfabetizado aos 15 anos em um acampamento do MST, ele hoje é licenciado em ciências agrárias, especialista em educação e movimentos sociais e dirigente nacional do setor de educação do MST.
“Eu me alfabetizei em um acampamento pela luta do MST, a luta pela terra e a luta pela reforma agrária. Terminei o curso e fui coordenar a escola do meu assentamento, quando eu já era pai e onde meu filho foi se alfabetizar, foi estudar. E dali a gente começa a ser um novo sujeito, a gente começa a pensar melhor que o estudo é uma realidade da vida da gente”, declara, emocionado, Gilmar.
O Pronera não apenas abre portas, mas derruba cercas – as do latifúndio do conhecimento. Graças ao programa, milhares de jovens e adultos do campo, como Gilmar, conquistaram o direito à educação superior e hoje escrevem novas histórias. Emocionado, ele agradece à luta que mudou sua vida.
“Acredito que não só eu, mas todos e todas as outras que viveram esse processo, a gente tem um sujeito que é muito importante na nossa vida, que é o sujeito político chamado movimento social, no meu caso, o MST, que me conduziu até lá, e eu não teria chegado em nenhum lugar se o movimento não tivesse me levado, por isso toda a nossa gratidão à luta do povo camponês e no meu caso, ao MST, por poder contar com essa política que é o Pronera e permitir que eu tivesse acesso ao conhecimento, à universidade e hoje poder contribuir com a luta do nosso povo”.
E tem mais…
Nesta edição do Bem Viver conta com a reabertura do Armazém do Campo, em Porto Alegre (RS), com comida de qualidade!
A força da educação também num projeto comunitário que coloca as crianças no centro do cuidado em Cuba, o ‘Corazón Feliz’.
Tem um passeio inusitado pelo Parque Cemitério Soledade, patrimônio de Belém (PA).
Gema Soto ensina uma receita deliciosa e saudável sem glúten e sem lactose, de bolo de laranja.
E o pessoal do Sítio Joaninhas, no Paraná, dá um salve sobre a produção de sementes crioulas.
Quando e onde assistir?
No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 12h55, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.
Na TVT: sábado às 13h; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 18h20, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
Sintonize
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil de Fato. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. Além de ser transmitido pela Rádio Agência Brasil de Fato.
O programa conta também com uma versão especial em podcast, o Conversa Bem Viver , transmitido pelas plataformas Spotify, Google Podcasts, iTunes, Pocket Casts e Deezer.
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