Após fazer um apelo por participação popular, o governo comunista chinês recebeu mais de 3 milhões e 113 mil sugestões online para serem aplicadas no plano do país para os próximos cinco anos, a ser implementado de 2026 a 2030. O número é exagerado até para os padrões chineses e representa o triplo das sugestões feitas para o plano quinquenal anterior.
Na consulta anterior, para o 14º Plano Quinquenal em 2020, os chineses haviam enviado pouco mais de um milhão de sugestões. Este ano de 2025 foi a primeira vez que a consulta popular foi feita online.
No começo desta semana, o presidente chinês Xi Jinping, instruiu governo e Partido a “investigar ampla e profundamente as condições do povo, ouvir as vozes populares e reunir a sabedoria das massas para consolidar uma poderosa força conjunta que impulsione a modernização no estilo chinês e continuamente concretizar os anseios do povo por uma vida melhor”.
O mandatário afirmou que a “alta participação e ampla cobertura”, representa uma prática “exemplar da democracia popular de processo integral“.
A consulta online foi realizada de 20 de maio a 20 de junho deste ano por meio de diversas plataformas de nível nacional, como os sites de mídias estatais (Diário do Povo, Xinhua e CCTV), e os dos governos provinciais ou locais.
O aplicativo “Estudar para Fortalecer a Nação” também foi uma das ferramentas onde cidadãos chineses enviaram suas sugestões. Essa plataforma foi criada em 2019, e reúne um importante acervo de conteúdos gratuitos, como periódicos, obras clássicas antigas, músicas, filmes e livros, cursos online para o estudo de membros do Partido, funcionários públicos e a população em geral. Até o ano passado, a plataforma contava com 345 milhões de usuários registrados e uma média de 700 milhões de acessos diários.
Veja algumas das sugestões feitas pela população
As sugestões variaram sobre temas diversos, como inovação científica e tecnológica, diplomacia, Defesa, além de cultura, revitalização rural, meio ambiente, educação, emprego, prosperidade comum, entre outros.
O aplicativo “Estudar para Fortalecer a Nação” reuniu sugestões e disponibilizou várias delas em blocos para o público em geral. O usuário ou usuária Du** (é divulgado apenas o sobrenome) propôs, por exemplo, “reforçar o controle do tabaco em locais públicos, acrescentando placas de proibição de fumar mais visíveis e canais de denúncia acessíveis, incentivando a participação do público na fiscalização”.
Du também sugeriu “aumentar os investimentos em propaganda pública de controle do tabaco e educação em Saúde, elevando a alfabetização sanitária e a consciência sobre o controle do tabaco em toda a população”.
A taxa de tabagismo entre pessoas com 15 anos ou mais na China é de 23,2%, segundo a Pesquisa sobre Tabaco em Adultos na China de 2024, feita pelo Departamento de Planejamento da Comissão Nacional de Saúde, e divulgada em maio deste ano. A taxa vem diminuindo, mas o país enfrenta um importante problema de fumo passivo, já que fumar em espaços públicos, embora seja proibido, é amplamente praticado em todo o país.
Já a usuária/o Li** mostrou preocupação com o uso de agrotóxicos nos cultivos:
“Recomendo o reforço contínuo da fiscalização sobre a segurança dos alimentos; na etapa de produção, deve-se proibir rigorosamente o uso de hormônios, aceleradores de amadurecimento, produtos químicos e pesticidas proibidos, garantindo também o período de carência seguro após a aplicação de agrotóxicos”.
“É necessário estabelecer um sistema de rastreabilidade dos alimentos, assegurando a supervisão integral desde o campo até a mesa, para proteger a inocuidade dos alimentos consumidos pela população”, recomendou.
Li** mostrou-se preocupada/o com “a grande variedade de produtos de crédito ao consumidor no mercado, com baixos requisitos de entrada e altas taxas de juros. Os estudantes, em particular, carecem de experiência e são propensos a contrair empréstimos de alto valor, o que representa riscos significativos”, argumentou.
“Devemos proibir explicitamente ou restringir rigorosamente a concessão de empréstimos a estudantes por instituições de crédito, a fim de proteger seus direitos e interesses legítimos”, sugeriu Li.
Já Yang* recomendou mais políticas de subsídios para a criação de filhos, “com a concessão escalonada de auxílios financeiros para famílias com segundo e terceiro filhos, além de explorar mecanismos articulados com políticas como dedução do imposto de renda e garantia habitacional”.
A pessoa também afirmou que é “necessário ampliar a cobertura do seguro-maternidade para trabalhadores informais (…) e elevar a taxa de adesão ao seguro saúde para recém-nascidos”.

As propostas enviadas pelas plataformas mencionadas anteriormente deveriam conter até 4 mil palavras, para sugestões maiores, foi disponibilizado um correio eletrônico do Escritório de Informação do Conselho de Estado.
*Com informações da Agência de Notícias Xinhua