Estudantes do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), campus Restinga, zona sul de Porto Alegre, paralisaram as aulas nesta quinta-feira (7) e sexta-feira (8) em protesto contra a falta de alimentação escolar adequada. A greve, decidida em assembleias realizadas nos três turnos de quarta-feira (6), denuncia a situação de insegurança alimentar enfrentada por parte dos alunos e exige a construção imediata de um restaurante estudantil (bandejão).
A mobilização foi convocada pelo grêmio estudantil e pela Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet), após relatos de fome entre estudantes. De acordo com a diretora da Fenet no RS, Marcela Almerindo, um aluno chegou a desmaiar por falta de alimentação. “A realidade dos estudantes dos IFs é triste: falta auxílio, falta comida, falta transporte. A luta é a única saída para conquistarmos direitos”, afirma, destacando que a reivindicação não é recente e que a Fenet cobra solução do Ministério da Educação (MEC).

Segundo o grêmio estudantil, a greve foi aprovada por ampla maioria. “Não é justo nos comprometermos a estudar sem ter garantia de poder se alimentar”, pontua a estudante Julia Pereira Fagundes, que integra o grêmio. “O ensino é gratuito, mas o investimento que os alunos fazem em transporte e alimentação é tanto que acaba sendo o mesmo que pagar para estudar”, completa.
Ela destaca que a adesão à greve é de todas as turmas e que os estudantes seguem indo ao campus para mostrar que a greve é por direitos, não por descanso. Fagundes afirma também que a relação dos alunos com a direção é boa e tem apoio. “É de interesse de todos que nenhum aluno deixe de estudar por passar fome em sala de aula e dificuldades financeiras. É de interesse dos professores ver uma turma cheia se formando, coisa que se torna cada vez mais rara por esses motivos.”
Direção apoia mobilização
O diretor de Ensino do IFRS Restinga, Mário San Segundo, afirma que a instituição apoia a mobilização: “É uma luta nossa também”. Segundo ele, a precariedade no fornecimento de alimentação é histórica e atinge todo o país. “Quando os institutos foram criados, ficaram de fora dos fundos que financiam a alimentação tanto da educação básica quanto do ensino superior. Porque se pretendia que tivesse recurso próprio para os institutos federais, só que esse recurso acabou nunca vindo.”
San revela que o valor recebido por aluno atualmente é menos de R$ 1,00 por dia. “Valor que subiu bastante. Para ter uma ideia, até o início do terceiro mandato agora do governo Lula, não dava 30 centavos por estudante por dia. Quando começou esse governo teve um aumento, mas mesmo assim é um valor muito baixo”, avalia.

Com esse valor, o diretor explica que o campus só consegue oferecer um lanche simples – e apenas para estudantes do ensino médio. Metade dos quase 2 mil alunos do IFRS Restinga estão no ensino superior e não são contemplados. “Recebemos muitos relatos dramáticos de estudantes que não conseguem se manter aqui. Apesar da educação ser gratuita, estudar custa caro: transporte, alimentação… é dramático”, desabafa o diretor.
Aulas estão suspensas até segunda-feira
A paralisação é respaldada institucionalmente. A nota oficial do instituto confirma a suspensão das aulas nos dias 7 e 8 de agosto, com retorno previsto para segunda-feira (11).
Localizado em uma das regiões mais vulneráveis da Capital, o campus Restinga atende majoritariamente estudantes da periferia. Segundo a direção, 51% dos alunos moram na Restinga, 39% vêm de bairros como Lami, Hípica e Lomba do Pinheiro, e outros 10% são de bairros mais afastados. Mais da metade dos estudantes têm renda familiar per capita inferior a um salário mínimo e meio, o que os torna dependentes de políticas de assistência estudantil.
A mobilização no campus integra uma articulação nacional da Fenet pela ampliação do orçamento federal para os institutos federais e a garantia da alimentação estudantil. Na segunda-feira, estudantes dos 17 campi do IFRS devem se reunir no campus Porto Alegre Centro para debater a organização dos estudantes, a redução do valor dos auxílios do IFRS e a alimentação escolar.
O Brasil de Fato RS solicitou posição do Ministério da Educação sobre as reivindicações dos alunos. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O espaço segue aberto.