O encontro entre os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, da Rússia, marcado para acontecer na próxima sexta-feira (15), no Alasca (EUA), para tratar do conflito na Ucrânia, chama atenção por excluir o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky das negociações, na avaliação de Amauri Chamorro, analista de Comunicação Política. O especialista foi entrevistado no Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta segunda-feira (11).
“A Ucrânia apenas é uma subsidiária dos interesses dos Estados Unidos. Então, se os Estados Unidos, que são os reais inimigos da Rússia, sentam numa mesa para negociar com a Rússia, e a Ucrânia sequer é chamada para estar nessa mesa, quer dizer que a contraparte da Rússia são os Estados Unidos, e não a Ucrânia”, avalia Chamorro. Para ele, “Zelensky se transforma numa espécie de fantoche dos interesses dos Estados Unidos”.
Nesta segunda-feira, Trump minimizou a relevância da participação do líder ucraniano no encontro. “Ele [Zelensky] não faz parte. Eu diria que ele poderia ir, mas já esteve em muitas reuniões. Sabe, ele está lá há três anos e meio. Nada aconteceu”, disse Trump a repórteres na Casa Branca.
Chamorro acredita que a reunião entre os líderes dos EUA e da Rússia deve discutir temas sensíveis como os territórios anexados pela Rússia e o afastamento da Ucrânia da Otan. “A desculpa do presidente Putin de invadir e de bombardear e iniciar essa guerra contra a Ucrânia foi porque a Ucrânia não cumpriu um acordo com a Rússia, com a União Europeia e os Estados Unidos, que era o fato de a Ucrânia ter uma função de uma espécie de ‘tampão’ entre a geografia da ex-União Soviética, da Rússia, com o resto da Europa”, lembra.
Além disso, Chamorro destaca o valor estratégico e econômico da região controlada pela Rússia. “Essa região que foi tomada pela Rússia é uma região que tem uma grande reserva de gás e de grãos. Vamos lembrar que a Ucrânia é um dos maiores produtores de trigo do planeta e tem uma das maiores reservas de gás da Europa, e o gás que passa da Rússia para a Europa passa pela Ucrânia”, diz.
Sobre a posição da União Europeia no conflito, o especialista ressalta sua fragilidade militar. “A Europa desapareceria em dez minutos num bombardeio russo. A União Europeia não tem capacidade de resistir militarmente à Rússia”, observa. Segundo ele, o bloco depende da Otan, mas enfrenta pressões econômicas e políticas, como a exigência russa para que a Europa invista 600 bilhões de euros na economia dos EUA e aumente seus gastos militares.
O analista explica ainda o movimento dos Estados Unidos em relação à Otan. “Trump diz, ‘eu banco a Otan, eu sou o que tem o maior poder de fogo, isso tem um custo enorme para mim, então eu vou me retirar da Otan, mas vocês são obrigados a comprar armas.’”, aponta. Essa estratégia expõe, para ele, “a fragilidade da União Europeia, em termos militares e estratégicos.”
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