A conta de luz no Brasil é o terceiro item que mais pressiona a inflação nacional deste ano até agora, ficando atrás somente das carnes e do café moído. De janeiro a julho, o custo da energia residencial no país já subiu 10,18%. Com isso, engatou a maior alta acumulada em 12 meses desde 2018.
O percentual de aumento e o impacto da conta de luz no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foram divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), junto com os dados da inflação de julho.
No mês passado, os preços dos produtos mais consumidos no Brasil subiram, em média, 0,26%. A conta de luz, entretanto, subiu 3,04% – dez vezes mais –, o que elevou o índice geral. “Sem a contribuição da energia elétrica, o resultado do IPCA de julho ficaria em 0,15%”, explicou Fernando Gonçalves, gerente do IBGE para o IPCA.
Segundo Gonçalves, essa alta de julho tem dois motivos. O primeiro é a bandeira tarifária vermelha patamar 1, que é instaurada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) quando reservatórios de hidrelétricas atingem um baixo nível. A bandeira adiciona R$ 4,46 na conta a cada 100 KWh consumidos justamente para desestimular o consumo. Isso acaba pesando no bolso do consumidor e nos indicadores econômicos.
O segundo motivo, segundo Gonçalves, são os reajustes periódicos na tarifa de energia autorizados também pela Aneel a pedido das concessionárias. Só em julho, a Enel, uma das concessionárias de energia elétrica da região metropolitana de São Paulo, reajustou sua tarifa em 13,94%. Já a RGE Sul, que atende a região metropolitana de Porto Alegre, teve reajuste autorizado de 14,11%.
Em ranking de satisfação de consumidores divulgado pela própria Aneel neste ano, a Enel SP é a 21ª colocada em um total de 31 companhias. A RGE é a 15ª.
Em 2023 e 2024, clientes paulistanos da Enel ficaram dias sem energia após temporais. A Controladoria-Geral da União realizou uma auditoria sobre o tema e concluiu que a Enel falhou em acionar seu plano de contingência para eventos do tipo.
Só em São Paulo, desde o início do ano, a conta de luz já subiu 17,81%, segundo o IBGE. A região metropolitana é campeã em alta do custo de energia em 2025.
Problema estrutural
Clarice Ferraz, economista e diretora do Instituto Ilumina, disse que os reajustes realmente pressionam as contas de luz no país, mas lembra que eles estão previstos em contrato. Segundo ela, investimentos feitos por concessionárias para melhoria dos serviços acabam sendo transferidos para as contas.
“Quando você está num ambiente há 20 anos ou 30 anos sem manutenção, a vida útil dos seus equipamentos fica comprometida e há estresse das infraestruturas”, explicou ela. “Isso, no fim das contas, aumenta a tarifa.”
Ferraz acrescentou que incentivos concedidos para expansão do parque de geração de energia solar e eólica também saem do bolso do consumidor. Para ela, essa expansão deveria ser mais bem planejada, mas disse que o governo não consegue fazê-lo.
“Hoje, há três Medidas Provisórias tramitando ao mesmo tempo no Congresso. Claro que o resultado de uma interfere na outra. Nunca se viu tamanha falta de coordenação”, disse.
Na segunda-feira (11), a Aneel divulgou que estima que as tarifas de energia subam no Brasil 6,5% em 2025. Em março, ela previa alta de 3,5%. A mudança na projeção ocorreu justamente por conta do crescimento dos subsídios previstos na MP que concede gratuidade na conta de luz a consumidores de baixa renda.
A gratuidade é custeada pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Em 2025, a conta vai arrecadar R$ 49,2 bilhões este ano. Isso é 32% mais que em 2024.
“O principal motivo da mudança da estimativa foi os valores [dos reajustes] homologados da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que teve o orçamento aprovado em R$ 8,6 bilhões maior do que o previsto”, informou a Aneel.
Procurado pelo Brasil de Fato, o Ministério das Minas e Energia (MME) não se pronunciou sobre os aumentos.