O economista Paulo Kliass analisou, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a Medida Provisória (MP) Brasil Soberano, anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (13) para socorrer setores da economia brasileira atingidos pelo tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos. Para Kliass, a iniciativa é necessária, mas precisa ir além do apoio financeiro às empresas.
“Tem que ser uma ajuda ao país, aos setores, incluídos aí os trabalhadores dessas empresas”, afirma, destacando que os R$ 30 bilhões anunciados devem proteger não apenas os exportadores, mas também os empregos que podem ser impactados. “É importante que, nesse programa, esteja muito claro que as empresas não podem demitir aquelas que forem beneficiadas e, principalmente, aquelas que sejam beneficiadas recuperem os empregos que já foram perdidos”, sugere.
Kliass defende que os recursos previstos para o plano de contingência sejam tratados como uma despesa extraordinária, fora do cálculo do teto de gastos e da meta fiscal, para que o governo não precise cortar recursos de áreas essenciais como saúde, educação e segurança pública para financiar o plano. Ele compara com a ajuda emergencial dada a setores afetados pela tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul em 2024.
Além disso, o professor indica o Novo Reintegra, programa integrante da medida que prevê o ressarcimento de tributos para exportadores de manufaturados, como um instrumento que pode estimular a industrialização do país. “É fundamental que o governo tenha em vista a proteção das empresas que vão receber esse tipo de benefício”, diz.
Outro ponto destacado pelo economista foi a possibilidade de compras públicas, principalmente de produtos perecíveis que teriam prejuízo com a frustração das exportações. “Você ganha dos dois lados: assegura a compra de um exportador que está, a princípio, tendo a sua exportação frustrada […] e, por outro lado, atende necessidades da população e do próprio Estado oferecendo mantimentos e outros tipos de alimento através das compras públicas”, explica.
Kliass enfatiza também a oportunidade de diversificação de mercados para o Brasil, principalmente com países do Brics, especialmente a China, ressaltando que a medida dos Estados Unidos busca enfraquecer a presença brasileira nesse bloco. “Espero que pelo menos, com essa crise, [façamos] aquela coisa do limão: vamos tirar uma limonada; quer dizer, que o Brasil acabe reforçando os seus laços. […] É uma oportunidade do Sul Global se reforçar e garantir a sua soberania”, aponta.
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