O plano de contingência que o governo Lula (PT) anuncia nesta quarta-feira (13) para socorrer empresas brasileiras afetadas pela sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos deve enfrentar barreiras políticas, avalia o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) Paulo Roberto de Souza, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Segundo ele, a adesão ao pacote, que inclui linhas de crédito, diferimento de impostos e medidas para garantir empregos, vai depender da confiança dos setores atingidos e do interesse em utilizá-lo.
“Provavelmente nesse processo vamos ter uma divisão em alguns grupos, notadamente aqueles relacionados ao agronegócio, que devem tensionar muito mais o governo para continuar uma negociação […] do que propriamente aceitar publicamente essa ajuda, inclusive porque os interesses deles nesse sentido são muito mais políticos do que econômicos”, analisa.
Souza também destaca que, historicamente, empresas de menor porte têm mais dificuldade para acessar esse tipo de ajuda. “Quem tem acesso mais rápido a esse tipo de plano de contingência são as grandes empresas, que acabam concentrando muito essas ajudas estatais”, aponta.
Para o professor, as medidas anunciadas representam um “estancamento de sangria” e precisarão ser seguidas de uma realocação das exportações brasileiras para mercados alternativos. Ele cita negociações com países asiáticos, como Vietnã e China, e o fortalecimento do Brics como caminhos para reduzir a dependência dos EUA.
No campo político, Souza avalia que a defesa pública feita pelo presidente estadunidense Donald Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) insere o caso no cenário doméstico. Ele lembra que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é “o principal agente desse boicote aos interesses brasileiros nos Estados Unidos” e cobra que o Conselho de Ética da Câmara analise a sua cassação.
“O presidente da Câmara [Hugo Motta (Republicanos-PB)] não se manifesta de forma contundente para punir de forma exemplar aquele que boicota o país”, critica.
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