O bolsonarismo enfrenta desgaste e isolamento crescentes, segundo o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Ele destaca que o recuo do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), diante da pressão da bancada que apoia o ex-presidente evidencia essa crise interna e externa. “Diante da opinião pública, o bolsonarismo cada vez mais ilustra um ponto de vista absolutamente lunático, entreguista, de servilismo aos Estados Unidos”, indica.
“Na quarta [6] passada, ele [Hugo Motta] fez um discurso muito superficial, agradou a todo mundo, era a ideia de que todo mundo saiu ganhando, principalmente os bolsonaristas. Mas, pressionado por lideranças políticas e pelo próprio [ex-presidente da Câmara] Arthur Lira (PP-AL), Hugo Motta resolveu ser um pouquinho mais incisivo. A maneira que ele manifestou isso foi através da recusa de pautar a questão da anistia total e irrestrita, como querem os bolsonaristas. O que é algo benéfico para a democracia […] e vai demonstrando como a bancada bolsonarista está ficando cada vez mais isolada, com menos prestígio”, afirma Ramirez.
Ramirez critica ainda a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) fora do país, classificando como “terrorismo econômico e diplomático contra o Brasil”. “É um absurdo que ele mantenha o cargo de deputado federal”, afirma. O professor também repudia o ataque do secretário dos Estados Unidos no Brasil, Marco Rubio, ao programa Mais Médicos. “Mostra como os americanos […] agem contra os direitos humanos brasileiros. […] O governo [do presidente Donald] Trump é a mazela da sociedade norte-americana que tende a levar os EUA ao fundo do poço”, aponta.
Ele destaca que o bolsonarismo tem perdido apoio também por conta dos ataques à democracia brasileira. Uma pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (14) mostra que 51% dos brasileiros concordam com a prisão domiciliar imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe. “O resultado da pesquisa mostra o bom senso de parte considerável da população brasileira que vê a família Bolsonaro como um grande entrave à democracia brasileira […] Esse desgaste vai mostrando que o bolsonarismo se encontra hoje na UTI”, indica.
Para o professor, o julgamento da trama golpista do 8 de janeiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) deve ser concluído até o início do próximo ano, evitando que a situação interfira nas eleições de 2026. “Seria o ideal, já que ano que vem, 2026, é um ano eleitoral […] No mais tardar, [o julgamento termina no] início do próximo ano, quando voltarem os trabalhos judiciários. Mais ou menos em fevereiro, março já teremos o desfecho dessa história”, prevê.
Ele avalia que as mudanças na presidência do STF, com a saída de Barroso, abre espaço para uma atuação mais humanista na Corte. “Barroso tinha uma relação mais profunda com o mercado financeiro. […] A saída de Barroso da presidência, assim como do STF, não vai mudar muita coisa, mas pelo menos traz a possibilidade de ascensão, por indicação do Lula, de um novo ministro mais humanista e mais engajado com as pautas sociais”, analisa.
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