Em defesa do direito à educação e na luta por justiça social, o coletivo Mãos Solidárias desenvolve na Bahia, a partir deste mês, a Jornada de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos nas Periferias Urbanas. Baseada no método cubano Sim, Eu Posso, a iniciativa conta com mais de 170 turmas nas três maiores cidades do estado, com expectativa de alfabetizar cerca de 5 mil baianos.
Além da Bahia, a jornada será realizada em todos os outros estados do Nordeste, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, alcançando cerca de 20 mil pessoas. As aulas têm início na próxima segunda-feira (18) e irão até o mês de dezembro.
O processo de alfabetização envolve cerca de 250 educadores e educadoras, que entre os dias 1º e 3 de agosto estiveram juntos em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 115 quilômetros de Salvador, no curso de formação do método Sim, Eu Posso. Para Fernanda Souza, da coordenação pedagógica da Jornada de Alfabetização nas Periferias Urbanas, a formação trouxe muita mística e expressou a força coletiva do projeto.
“Foi um momento belíssimo, de muita troca, de entender quem são esses alfabetizadores que estão construindo essa jornada com a gente. A grande maioria desses alfabetizadores são lideranças comunitárias. Então é um processo de muita transformação mesmo, de muito movimento nas comunidades e nos territórios”, destaca.
Ao todo, a jornada contará com 85 turmas em Salvador, distribuídas em 30 territórios, 60 turmas em Feira de Santana, divididas em 25 territórios, e 30 turmas em Vitória da Conquista, espalhadas por 18 comunidades.
A mesa de abertura do curso contou com a presença da professora Lenira de Figueiredo, diretora do Núcleo Territorial de Educação (NTE) de Vitória da Conquista; a professora Fátima Costa, diretora do NTE de Salvador; o professor Murilo José, diretor do NTE de Feira de Santana; Eliane Oliveira, da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos parceiros da jornada; e Fabya Reis, secretária de Assistência e Desenvolvimento Social da Bahia, além de representantes das turmas e comunidades das três cidades envolvidas no projeto.
Iniciativa de muitas mãos
A Jornada de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos nas Periferias é uma ação construída a partir da articulação do Mãos Solidárias, o Ministério da Educação (MEC) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com apoio do governo do estado da Bahia. Em 2023, o coletivo já havia realizado uma ampla jornada estadual de alfabetização. Souza explica, no entanto, que essa é a primeira vez que a iniciativa é realizada de forma simultânea em diversas regiões.
“É a primeira vez que o método Sim, Eu Posso, que é o método cubano que a gente utiliza na alfabetização, está sendo usado em uma articulação nacional, com vários estados se articulando de uma vez para fazer esse processo de alfabetização. Então é bastante gente envolvida. A gente tem uma equipe de coordenadores, de alfabetizadores. Ao todo, vão ser alfabetizadas cerca de 20 mil pessoas”, salienta.

A coordenadora destaca que essa jornada começou a ser construída no fim do ano passado e, além de fomentar a leitura e escrita dos educandos, também busca fortalecer os vínculos comunitários e ampliar a consciência política dos participantes.
“Essa jornada tem um cunho político muito forte. Queremos alfabetizar, sim, mas também contribuir para a formação política nesses territórios, elevar o nível de consciência e pensar a transformação social. Articular campo e cidade é fundamental, e a relação com o MST é parte central disso. O MST é um movimento que dá base e direção ao Mãos Solidárias. É essa aliança que nos fortalece para atuar nas periferias e construir, de fato, uma transformação nesses territórios”, complementa.
Combate ao analfabetismo
Criado em Cuba no início dos anos 2000 pela pedagoga Leonela Relys Díaz, o método Sim, eu posso já alfabetizou cerca de 10 milhões de pessoas em mais de 30 países, incluindo Moçambique, Angola, Nicarágua, Venezuela, Timor-Leste e o próprio Brasil. Como aponta o MST, sua proposta associa números, sons e palavras simples para avançar, no ritmo de cada estudante, até a construção da leitura crítica do mundo.
De acordo com dados de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), 9,7% das pessoas com 15 anos ou mais na Bahia eram analfabetas, índice quase duas vezes maior que a média nacional, que é de 5,3%. No entanto, segundo dados da Secretaria de Educação (SEC), a Educação de Jovens e Adultos (EJA) vem crescendo no estado. Até fevereiro deste ano, o órgão registrou 106 mil matrículas, um aumento de 15% em relação a 2024.