O Rio Grande do Sul enfrenta mais um vez as consequências de chuvas intensas. De acordo com boletim da Defesa Civil divulgado na manhã desta segunda-feira (25), 46 municípios relataram ocorrências relacionadas aos temporais registrados nos últimos dias no estado. Os danos vão desde destelhamentos e quedas de árvores até alagamentos de grande porte e interdição de rodovias. Mais de 700 pessoas precisaram sair de casa.
São Lourenço do Sul é a cidade mais impactada e decretou estado de calamidade pública. A Defesa Civil informa que cerca de 500 pessoas estão desalojadas e 23 desabrigadas após inundações em áreas urbanas e rurais.
No município de Barra do Ribeiro, a cheia do arroio Ribeiro atingiu residências e deixou 60 desalojados. Já em Cristal, foram contabilizadas 12 pessoas desabrigadas e 8 desalojadas, enquanto em São José do Norte houve 24 desalojados na localidade de Capão do Meio. Também foram reportados 4 desabrigados em Dom Feliciano e 4 desalojados em Turuçu.

Ao todo o estado contabiliza 713 pessoas, entre desalojadas e desabrigadas, em 11 municípios. São consideradas desalojadas e desabrigadas as pessoas que tiveram que deixar suas casas. As desalojadas, porém, não necessariamente precisam de abrigo fornecido pelo Estado, ao contrário das desabrigadas, que não têm para onde ir.
Porto Alegre registrou desabamentos, destelhamentos e queda de árvores. Outras cidades, como Encruzilhada do Sul, Camaquã e Chuvisca, relataram estradas interrompidas, danos em pontes e alagamentos em zonas urbanas e rurais. Em Cachoeira do Sul, houve bloqueio total da BR-153, enquanto a BR-290 em Vila Nova do Sul precisou ser interditada devido à elevação do arroio Vossoroca.
Os temporais também foram acompanhados por queda de granizo em municípios como Lindolfo Collor, Porto Lucena, Eugênio de Castro e Jóia, que tiveram residências danificadas. Já em Santa Maria, o rio Vacacaí transbordou às margens da BR-392, no distrito de Passo do Verde.
A Defesa Civil estadual informa que segue em monitoramento constante das condições meteorológicas e mantém equipes em alerta para novos chamados. De acordo com a entidade até o momento somente o município de Cristal registrou situação de emergência no sistema integrado de informações sobre desastres.

Situação de São Lourenço do Sul
O município de São Lourenço do Sul, na região sul do estado, foi novamente atingido por chuvas intensas, que totalizaram cerca de 300 milímetros em um período de 24 a 48 horas, segundo o prefeito Zelmute Marten (PT). Cerca de 2 mil residências foram afetadas nos bairros Lomba, Navegantes, 7 de Setembro, na RS-265 e na Camponesa.
De acordo com o prefeito, as famílias começam a retornar às suas casas. Ele informou que já chegaram doações da Defesa Civil do Estado e que o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, em parceria com o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, disponibilizou mil cestas básicas. A Central Única das Favelas (Cufa) enviou 200 marmitas e deve entregar mais 500.
O município está realizando levantamento dos prejuízos no interior e na cidade para encaminhamento ao Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs) e à Defesa Civil Nacional. “Estamos propondo situação de calamidade devido ao colapso registrado, considerando a extensão da infraestrutura rural, 2.800 km de estradas, 350 pontes e 850 bueiros, e das ruas da cidade. O desafio é difícil e complexo, mas trabalhamos em esforço interfederativo entre município, estado e União, com protagonismo dos servidores públicos, do Exército Brasileiro e da comunidade, para superar este momento”, afirmou.
Segundo o livro Desastres Naturais em São Lourenço do Sul – RS (2024), da coleção Diagnóstico dos Desastres Naturais na Metade Sul do Rio Grande do Sul, 80% da área urbana da cidade está em região de risco. O estudo documenta um ciclo recorrente de estiagens, enxurradas, vendavais e tempestades de granizo que têm testado a resiliência da cidade.
O evento mais devastador do período foi a enchente de 2011, que causou perdas humanas e prejuízos materiais em uma escala que levou à declaração oficial de desastre.
O levantamento também destaca outros episódios críticos, como a severa seca de 2006 e as violentas tempestades de 2010 e 2018, que reforçaram um padrão de perdas contínuas na agricultura e infraestrutura local. O documento serve como um alerta sobre a vulnerabilidade da região e a necessidade de ações.

Como fica o tempo essa semana
Segundo a meteorologista Estael Sias, da Metsul Meteorologia, a maior parte das cidades do estado não deve registrar chuva nesta semana. Os dias serão de sol e nuvens, com momentos de maior cobertura de nebulosidade, como ocorre nesta segunda-feira em algumas regiões.
De acordo com Sias, uma baixa segregada que trará chuva forte e risco de granizo para Santa Catarina e Paraná terá efeito mais limitado no Rio Grande do Sul. A chance de precipitação se restringe a pontos do norte e nordeste do estado, incluindo Alto Uruguai, Planalto Médio, Norte da Serra, Campos de Cima da Serra e algumas áreas do norte do litoral durante a primeira metade da semana. Na quinta-feira, setores isolados do leste gaúcho podem registrar chuvas fracas, mas, de maneira geral, o tempo firme deve predominar, com sol e nuvens. Na sexta-feira, eventualmente, pode ocorrer chuva isolada apenas no norte do litoral.
O frio intenso que marca o começo da semana, com temperaturas abaixo de zero, não deve se prolongar. Na segunda metade da semana, a temperatura tende a subir, e no sábado algumas regiões podem até registrar calor.
Até esta segunda-feira (25), o Rio Grande do Sul soma 52 dias com mínimas negativas no ano: 3 em abril, 6 em maio, 17 em junho, 16 em julho e 10 em agosto até o momento. Ao longo da semana, a tendência é de elevação das temperaturas mínimas e máximas em todo o estado, com tardes mais quentes no final da semana.
Nos últimos três anos, o Rio Grande do Sul enfrentou uma sequência de eventos climáticos extremos. Foram quatro enchentes entre 2023 e 2025 – incluindo a tragédia de maio de 2024, considerada a mais intensa já registrada no estado. Além das inundações, o aumento das ondas de calor, estiagens severas e tempestades fora de época reforçam o alerta dos cientistas: o clima já mudou, e seus efeitos estão sendo vividos agora.
O professor e climatologista Francisco Eliseu Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), destaca que, com as características climáticas do estado, “todos os eventos meteorológicos tendem a se tornar mais frequentes e mais intensos nas próximas décadas”.
*Com informações da Defesa Civil do Estado e da Metsul Meteorologia.