O Complexo Caio Martins é muito mais do que um conjunto de prédios. Ele é parte viva da memória de Niterói (RJ), um espaço que já serviu a gerações em atividades esportivas, culturais e de convivência.
Mesmo assim, o governo Claudio Castro (PL) decidiu incluir o Caio Martins na lista de imóveis dos quais pretende se desfazer. Essa decisão é equivocada e expõe um problema maior: a ausência de transparência e de diálogo sobre o destino dos bens públicos do Rio de Janeiro. Estamos falando de quase 4 mil imóveis, muitos deles subutilizados ou abandonados. Não se trata de qualquer coisa, é um patrimônio coletivo, construído com o esforço de toda a sociedade fluminense.
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Antes de vender ou leiloar, o Estado precisa apresentar um diagnóstico claro sobre a situação física desses imóveis, verificar se há interesse de prefeituras em assumi-los por meio de parcerias ou cessão de uso e, sobretudo, considerar quantas entidades sociais, culturais e esportivas, que hoje arcam com aluguéis elevados, poderiam ser atendidas nesses espaços. Há inúmeros exemplos de organizações comprometidas que poderiam dar vida a esses imóveis, transformando-os em centros de atendimento, espaços culturais, esportivos e de convivência comunitária.
Além disso, o Caio Martins é parte da história e memória dos anos de chumbo no Brasil. Ele foi o primeiro complexo de estádio de futebol utilizado como prisão na América Latina, a partir de abril de 1964, no início da ditadura militar. Segundo o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) do Rio de Janeiro, mais de 300 presos teriam passado pelo estádio, mas esse número pode ser superior a mil. É, portanto, um lugar que guarda a memória dos que lutaram pela democracia no Brasil.
Desfazer-se do Caio Martins sem responder a essas questões significa abrir mão de oportunidades de investimento em políticas públicas e de valorização da nossa memória coletiva. O Estado tem o dever de preservar e revitalizar esses bens para devolvê-los ao povo, e não entregá-los à especulação.
O Caio Martins é do povo de Niterói e do Estado do Rio de Janeiro. E meu compromisso, como deputada estadual, é lutar para que continue cumprindo sua função social, como patrimônio da nossa cidade e de todo o Estado do Rio de Janeiro.
*Verônica Lima é deputada estadual (PT-RJ).
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.