O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou nesta quarta-feira (27) que a Rússia enxerga de forma negativa a possibilidade de enviar tropas europeias para a Ucrânia.
Ao ser questionado por repórteres sobre a discussão em relação às garantias de segurança que poderiam incluir o envio de tropas europeias para o país, Peskov afirmou que não existe uma noção de “tropas europeias”, pois, segundo o porta-voz, trata-se de “tropas de países específicos, e a maioria desses países é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”.
Peskov reiterou a posição de Moscou em relação ao conflito ucraniano, observando que foi justamente o envio de infraestrutura da aliança militar ocidental para a Ucrânia que se tornou uma das causas do conflito.
A questão das garantias de segurança da Ucrânia estão no centro das negociações de paz na guerra foi um dos principais tópicos na reunião do presidente dos EUA, Donald Trump, com o líder ucraniano Volodymyr Zelensky e seu aliados europeus, realizada na segunda-feira (18), na Casa Branca.
Ao comentar os resultados da reunião, os EUA declararam que vão ajudar a coordenar garantias de segurança para a Ucrânia durante as negociações e que “possivelmente fornecerão outros meios” para tal. A informação foi divulgada pela secretária de imprensa da Casa Branca, Carolyn Levitt. Ao mesmo tempo, a Casa Branca descartou o envio de tropas estadunidense à Ucrânia, mas não descartou opções como apoio aéreo.
Ao mesmo tempo, Donald Trump afirmou em 25 de agosto que os países europeus entregarão à Ucrânia “garantias de segurança significativas, como deveriam”, já que estão geograficamente mais próximos, enquanto Washington apoiará a Europa.
Moscou, por sua vez, afirma que não se opõe à discussão de garantias de segurança para a Ucrânia, mas destaca que elas não devem incluir a intervenção militar estrangeira em parte do território ucraniano, proposta pela Europa.
O enviado especial da presidência dos EUA, Steve Witkoff, se reunirá com uma delegação ucraniana nos EUA esta semana para discutir possíveis garantias para Kiev.
O impasse sobre a configuração destas garantias de segurança, entre outros pontos centrais, como a questão territorial ucraniana, esfriou o andamento das negociações para se chegar a um acordo de paz, mesmo após importantes avanços diplomáticos como a cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin, no Alasca, seguida da reunião do líder dos EUA com Zelensky e seus aliados europeus.
Além disso, a Rússia amenizou a retórica em relação ao presidente ucraniano, reconhecendo que estaria disposta a negociar diretamente com ele. Na última segunda-feira (25), o chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmou que reconhece Zelensky como o presidente “de fato” da Ucrânia, e poderia realizar negociações sob este status. A discussão para uma possível reunião entre Putin e Zelensky também não teve avanços.
No briefing à imprensa desta quarta-feira (27), o porta-voz de Putin destacou também que o trabalho entre a Rússia e os Estados Unidos para resolver o conflito ucraniano deve ser conduzido em um formato não público para que os resultados sejam alcançados.
Ao comentar os resultados da cúpula do Alasca entre Putin e Trump, o porta-voz enfatizou que os participantes das negociações discutiram diversas questões relacionadas à resolução do conflito na Ucrânia, mas, segundo Peskov, as autoridades russas acreditam que conversas sobre os detalhes da reunião, isoladas do contexto geral e em um ambiente público, dificilmente seriam úteis para o resultado geral.
“Acreditamos que o trabalho deve continuar em um formato não público. Esta é a única maneira de alcançar resultados”, completou o porta-voz do Kremlin.