Os ministros da Comunidade dos Países Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) denunciaram, nesta segunda-feira (1º), a presença de navios militares estadunidenses na costa venezuelana. Em uma reunião emergencial virtual convocada pelo governo colombiano, o grupo de países reforçou que essa mobilização representa uma preocupação para toda a América Latina e pediu que as tropas estadunidenses deixem a região.
Para a Celac, a defesa da região como uma zona de paz não significa ignorar as diferenças entre os integrantes e nem minimizar a atuação do crime organizado na região. A ideia é ter uma metodologia de enfrentamento que foque nas instituições dos países e uma cooperação judicial e policial.
A ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Rosa Villavicencio, disse que o respeito entre os países é a “espinha dorsal” da ordem internacional e deveria ser cumprido por todas as nações. Ela reforçou que o direito à navegação deve ser usado por qualquer governo, mas que as declarações da Casa Branca criam um tom beligerante.
“Reconhecemos que a presença de navios de guerra em alto mar é protegida pelas liberdades de navegação garantidas pelo direito marítimo, mas também lembramos que toda atividade militar deve ser conduzida sem ameaças ou atos de força e, em segundo lugar, que o limiar entre a presença e a coerção pode ser facilmente ultrapassado quando prevalece a retórica beligerante”, afirmou.
A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usariam “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
Depois disso, agências de notícias internacionais registraram o envio de diferentes navios e até um submarino com propulsão nuclear para o sul do Caribe.
A ministra colombiana reiterou que a medida estadunidense desrespeita a própria Carta das Nações Unidas e pediu que as questões envolvendo os EUA com a região sejam resolvidas por canais diplomáticos.
“Rejeitamos a lógica da intervenção, reafirmamos a Carta das Nações Unidas, exigimos que todas as preocupações legítimas sejam canalizadas por canais diplomáticos e multilaterais e oferecemos nossas plataformas para facilitar soluções latino-americanas e caribenhas para os desafios da nossa casa comum”, afirmou Villavicencio.
A Venezuela também participou da reunião. O chanceler Yván Gil disse que a declaração do caribe como uma zona de paz não é um “mero documento simbólico”, mas, sim, um “mandato coletivo” que precisa ser defendido. Ele também disse que a América Latina não vivenciava um problema tão grave na região desde a crise dos mísseis em 1960, com a ameaça de um conflito nuclear na região entre Cuba e EUA.
“Estamos vivendo uma situação sem precedentes. Desde a crise dos mísseis, a paz regional não foi significativamente ameaçada. Pedimos à comunidade que se manifeste em defesa da zona de paz. Qualquer conflito armado contra a Venezuela, usando um pretexto falso como o tráfico de drogas, significaria a desestabilização completa de toda a região. Isso não é um ataque à Venezuela. O que estamos vendo é o estabelecimento de uma narrativa que ameaça toda uma região. As consequências dessa ação seriam verdadeiramente inestimáveis”, afirmou.
A estratégia da Venezuela hoje é acusar os EUA de desrespeitarem o Tratado de Tlatelolco, assinado no México em 1967 e ratificado pelos próprios Estados Unidos. O acordo definia que os países da região não desenvolveriam esse tipo de armamento. As nações signatárias concordaram em não testar, fabricar ou desenvolver qualquer arma nuclear.
A denúncia da Venezuela é de que os EUA enviaram um submarino nuclear para a região. Militares venezuelanos ouvidos pelo Brasil de Fato, no entanto, afirmam que o submarino estadunidense que está vindo para a região é um submarino de propulsão nuclear, ou seja, ele se desloca a partir da energia gerada pela quebra de núcleos atômicos. Ele pode, ou não, usar armas nucleares. A possibilidade de que ele carregue armas nucleares, no entanto, já foi suficiente para a denúncia venezuelana.
Yván Gil também denunciou a presença de oito embarcações com mais de 1.200 mísseis e 4.200 soldados perto da costa venezuelana. Ele disse que esses militares estariam “treinados e de prontidão para invadir a Venezuela”.
Aliados se manifestam
Nicarágua e Cuba também estavam representados na reunião. Os dois países têm os governos mais próximos a Nicolás Maduro na região e manifestaram apoio à Venezuela neste momento. O vice-ministro das Relações Exteriores nicaraguense, Iván Lara Palacios, condenou a presença dos militares estadunidenses na região e disse que seu governo considera que o respeito à igualdade soberana e aos assuntos internos não são opcionais.
Ele rejeitou também qualquer ameaça de uso da força que “coloque em risco a paz”.
“Não podemos permitir que nossa região seja desestabilizada. Hoje é um país, mas amanhã podem ser outros países, e é por isso que precisamos ter unidade nesta comunidade, porque somos uma zona de paz”, disse.
Outro a participar da reunião virtual foi o ministro interino das Relações Exteriores de Cuba, Gerardo Peñalver Portal. Ele questionou os argumentos usados pela Casa Branca para essa operação e disse que os relatórios oficiais da Agência Antidrogas (DEA) que ligam o país a redes de tráfico de drogas “não têm base em fatos”.