A União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Sul (UEE-RS) realiza entre os dias 5 e 7 de setembro, em Santa Maria, o seu 31º congresso. O encontro deve reunir cerca de 700 estudantes de todo o estado para debater educação, soberania nacional, democracia e permanência estudantil, além de eleger a nova diretoria da entidade. O evento acontece no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
O diretor da UEE-RS, Rian da Silva Rodrigues, destacou que a conjuntura política e social exige mobilização.
“O momento histórico que o país e nosso estado vivem pede uma grande mobilização dos estudantes. Seja contra as políticas de contingenciamento dos recursos da educação, que impedem a aplicação do ensino superior público, mas que também precarizam nossas universidades. E um dos casos gritantes que vivemos no RS é o da Universidade Estadual (Uergs), onde o governo Eduardo Leite não investe nem o mínimo constitucional de 0,5% e ignora a existência de uma instituição que poderia ser fundamental para expansão do acesso a cursos de graduação por todo o nosso estado.”
Pautas do congresso
Segundo Rodrigues, o encontro terá como eixo central a soberania nacional, mas também dará atenção a temas relacionados ao ensino superior e ao meio ambiente.
“É impossível um congresso de estudantes no Rio Grande do Sul não debater a questão ambiental depois das enchentes de 2024, e a necessidade de pensar essa nova realidade climática. Enquanto as universidades públicas carecem de mais orçamento, as instituições comunitárias, fortes no Interior do nosso estado, hoje representam a maioria dos estudantes universitários do RS em modalidade presencial, e precisam ser reconhecidas e receber mais investimento. Ao mesmo tempo que precisamos garantir a regulamentação das IES privadas, impedindo sua expansão em grande escala sem nenhum tipo de fiscalização, o que gera cursos com pouca profundidade e estudantes sendo enganados por conglomerados de educação.”
O presidente da entidade, Alejandro Guerrero, também destacou a relação entre o congresso e o calendário político do país.
“O congresso vai acontecer no final de semana do feriado de 7 de setembro, que comemora a independência do Brasil. A gente quer trazer com centralidade nesse congresso o debate sobre a soberania nacional, inclusive o papel do Rio Grande do Sul. O Congresso também acontece na semana do julgamento do Bolsonaro. Então são temas que vamos conectar à pauta da soberania nacional, da democracia e da defesa da educação.”
Trajetória da UEE-RS
Em 2025, a UEE completa 86 anos de atuação. Criada em 1939, teve sua história interrompida pela ditadura militar e, por décadas, conviveu com disputas internas que resultaram na formação da UEE Livre do Rio Grande do Sul. A unificação ocorreu em 2019, quando a entidade foi renomeada simbolicamente como UEE Dr. Juca, em homenagem a João Carlos Haas Sobrinho, estudante gaúcho assassinado na Guerrilha do Araguaia.
Rodrigues destacou que, desde então, a entidade tem renovado seus quadros. “Desde a unificação, a UEE vem renovando seus quadros, tendo eleito por três gestões seguidas jovens negros para comandar a entidade, frutos das políticas públicas de acesso ao ensino superior, que se tornaram lideranças políticas para os estudantes e para a juventude, em defesa da educação e da democracia.”
Ensino superior no Rio Grande do Sul
O diretor da UEE-RS apontou que a evasão no ensino superior continua sendo um desafio no estado.
“As universidades federais enfrentam sérios problemas envolvendo seu orçamento, que depois de anos de cortes durante os governos Temer e Bolsonaro, mesmo com recomposição, ainda é menor do que recebiam antes de 2014. O que foi mais afetado com isso são as políticas de assistência estudantil, que garantem a permanência dos estudantes em vulnerabilidade social dentro do ensino superior. Enquanto isso, a Uergs está completamente largada durante o governo Leite, que não cumpre o mínimo constitucional.”
Ele também destacou diferenças entre os modelos de instituições privadas:
“Enquanto as universidades comunitárias oferecem grande infraestrutura e fomentam pesquisa e extensão de qualidade, seu maior desafio é garantir investimentos e não serem entregues totalmente à iniciativa privada. Já as universidades e centros privados comandados por grandes conglomerados são precarizados, muitas vezes sem boa infraestrutura, cobram preços altos por cursos de baixa qualidade e enfrentam processos de estudantes endividados. Defendemos uma profunda regulamentação, que coloque regras sobre mensalidades, qualidade de ensino e a necessidade de fomentar pesquisa e extensão.”
Permanência e políticas para juventude
A permanência estudantil foi apontada por Rodrigues como prioridade.
“Se as gerações anteriores do movimento estudantil lutaram muito por políticas de acesso ao ensino superior, como as cotas, o ProUni e o Fies, nossa missão agora é garantir que esses estudantes tenham condições de se manter nas universidades e sair delas formados. A ampliação dos restaurantes universitários cumpre grande papel, mas também é necessário ter maior investimento em bolsas de iniciação científica, auxílio para estudantes vulneráveis e uma rede de apoio dentro das universidades que garantam que esses estudantes não se sintam excluídos ou incapazes de completar seus cursos.”
Expectativas e próximos passos
O congresso deve ser o maior da história da UEE-RS, segundo Rodrigues. “Feito no interior do estado também dá um recado. É preciso reorganizar o movimento estudantil por todo o Rio Grande do Sul, voltar a encantar os estudantes e criar uma grande rede de mobilização em defesa da educação, da democracia, mas também para retomar o RS para o caminho certo.”
Já Guerrero apontou que o próximo período será de enfrentamento político. “O desafio central da próxima gestão da UEE será derrotar e pôr fim à extrema direita. Os estudantes gaúchos são linha de frente no combate ao bolsonarismo. Queremos construir no Rio Grande do Sul as condições para que um projeto popular e democrático volte a governar o nosso estado com o povo, com os movimentos sociais e com os estudantes.”
O presidente também listou metas para o próximo período: “Precisamos garantir os 55% para as universidades comunitárias e conquistar os 10% do PIB para a educação, vinculados ao debate sobre o Plano Nacional de Educação dos próximos dez anos. Também queremos ser a gestão que vai conquistar as cotas trans para as universidades.”
Rodrigues concluiu destacando o impacto pessoal da participação. “Participar de congressos estudantis muda, e já mudou, a vida de muitas pessoas. Foi do movimento estudantil que saíram as principais lideranças políticas do campo progressista da atualidade. Ir para o congresso da UEE pode mudar a sua vida para sempre.”