O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta segunda-feira (1º) que Caracas está preparada caso os Estados Unidos decidam atacar o país caribenho. O mandatário disse que se os EUA promovessem uma ofensiva militar contra os venezuelanos, o país passaria para a luta armada.
“Estamos em um período de máxima preparação. Mas se acontece uma invasão passaremos para uma luta armada. Se fossemos agredidos, teríamos que declarar a República em armas para garantir a paz e a soberania em qualquer circunstância. Aqui não é opção entre pátria e morte, mas entre colonialismo e independência”, disse o presidente.
Em coletiva de imprensa, o mandatário afirmou que uma agressão contra a Venezuela teria “impactos mundiais”. Ele disse esperar pela paz, mas que o país está em “máxima preparação contra uma máxima pressão”.
Essa foi a primeira vez que Maduro e os ministros venezuelanos se reuniram para falar de maneira pública sobre a presença de navios militares estadunidenses na região. O presidente disse que o envio de 8 navios e submarinos para a região é “a maior ameaça” que a Venezuela e a América Latina passaram na história. Ele ainda disse essa é uma ameaça “criminosa e imoral”.
Em sua declaração, Maduro afirmou que a única informação que tem sobre o posicionamento dos navios é que eles estariam de frente para a Venezuela, com “mísseis apontados para a cabeça dos venezuelanos”.
Apesar de criticar Trump, o presidente venezuelano deslocou o foco de sua fala contra o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. Segundo o mandatário, o chefe do Departamento de Estado é quem tem feito as principais ameaças contra a Venezuela.
“Trump tem que se cuidar porque Marco Rubio quer manchar a suas mãos de sangue, com sangue latino-americano, caribenho e venezuelano e que o presidente esteja sujo de sangue com uma guerra contra todo o continente. Ele é um homem inteligente, saberá o que fazer”, afirmou.
Apesar de criticar o envio dos navios, Maduro também tentou apaziguar e fez um aceno a Trump. O presidente disse que concorda com o republicano na busca pela paz e que pretende manter uma relação positiva com os EUA.
“Eu e Trump temos visões diferentes do mundo. Só coincidimos em uma opinião. Ele quer a paz para o mundo e quer deixar isso como legado. Se quer a paz, na Venezuela somos o único aliado. Mas sabemos que o Estado profundo não vai deixar ele se manter nisso.”
A estratégia da Venezuela hoje é acusar os EUA de desrespeitarem o Tratado de Tlatelolco, assinado no México em 1967 e ratificado pelos próprios Estados Unidos. O acordo definia que os países da região não desenvolveriam esse tipo de armamento. As nações signatárias concordaram em não testar, fabricar ou desenvolver qualquer arma nuclear.
A denúncia da Venezuela é de que os EUA enviaram um submarino nuclear para a região. Militares venezuelanos ouvidos pelo Brasil de Fato, no entanto, afirmam que o submarino estadunidense que está vindo para a região é um submarino de propulsão nuclear, ou seja, ele se desloca a partir da energia gerada pela quebra de núcleos atômicos. Ele pode, ou não, usar armas nucleares. A possibilidade de que ele carregue armas nucleares, no entanto, já foi suficiente para a denúncia venezuelana.
Maduro voltou a falar sobre o tratado como um acordo de desnuclearização da região e pediu que seja respeitado. Ele afirmou que, mesmo assim, os canais de negociação estão abertos com os EUA. Ele citou duas frentes de diálogo com os EUA. Primeiro com John McNamara, diplomata de carreira e fiel à “linha institucional tradicional” estadunidense.
O segundo canal é com Richard Grenell, enviado especial da Casa Branca para a Venezuela. Ele esteve em Caracas no começo de fevereiro para negociar o envio de deportados venezuelanos dos EUA.
O presidente também comparou a pressão de agora com a realizada pelos EUA no primeiro mandato de Trump. Segundo o mandatário, as semelhanças se dão em torno de uma série de ataques para mudar o regime com paramilitares e planos de desestabilização. Ele afirmou que o principal peão da “máxima pressão” estadunidense naquela ocasião foi o ex-deputado Juan Guaidó. A diferença, segundo Maduro, é que hoje a Venezuela está mais forte.
Apoio popular
Maduro valorizou o apoio massivo de venezuelanos em torno do governo. O principal argumento para isso foi o alistamento para a Milícia Nacional Bolivariana. O governo realizou um chamamento nos últimos dois finais de semana e convocou a população para participar.
A milícia é uma organização formada em 2009 por civis e militares aposentados em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em seus diferentes contextos — urbano e rural. O grupo passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.
De acordo com o governo, antes da jornada de inscrição estavam ativos cerca de 5 milhões de milicianos no país. Agora, Maduro disse que são 8,2 milhões de inscritos entre ativos e reservistas da milícia.
O presidente agradeceu a participação popular e disse que cada vez mais há movimentos populares rejeitando a ação dos EUA, inclusive em território estadunidense.
“Eu agradeço nosso povo pela união popular-militar-policial. Agradeço pelo fervor em todos esses dias contra as ameaças contínuas. Venezuela é um país pacífico, mas com um povo de guerreiros. Agradeço também a solidariedade da imensa maioria dos movimentos populares e há uma crescente opinião dentro dos EUA para atuar contra essas ameaças. Já começamos a notar. É um estado de ânimo nos próprios EUA.”
Ainda em seu discurso, Maduro também fez menção à reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) que acontece nesta segunda-feira. Ele disse esperar um posicionamento enfático da organização contra o avanço dos EUA.
Acordo com a Colômbia
Jornais e agências de notícias internacionais noticiaram nos últimos dias o deslocamento de 15 mil militares venezuelanos para a fronteira com a Colômbia. Maduro disse que isso faz parte do acordo com Bogotá para a consolidação da Zona Econômica de Paz. O acordo binacional determina o investimento em áreas estratégicas como energia, indústria, turismo e transporte. Além disso, o foco da aliança entre os dois países é a segurança e o combate aos grupos criminosos que atuam na fronteira.
Ele disse que o deslocamento foi feito não só do lado venezuelano, mas também do lado colombiano para atuar contra as ameaças estadunidenses, já que a fronteira também é usada como espaço de passagem de armas.
“Nossa irmã Colômbia é uma das principais produtoras de cocaína do mundo. E a maior parte vai pelo pacífico e especialmente no Equador. Só cerca de 8% sai por La Guajira. Estamos dando os primeiros passos para a Zona de Paz número 1. É uma zona binacional que queremos limpar e consolidar no território venezuelano. Do lado colombiano, [o presidente Gustavo] Petro tomou decisões também nessa direção, de reforçar o número de efetivos para termos um plano conjunto de desenvolvimento econômico”, afirmou.