Uma delegação brasileira, com 13 integrantes, participa da embarcação da Global Sumud Flotilla, missão internacional que pretende levar, por meio naval, ajuda humanitária a Gaza, no Estado palestino. A iniciativa conta com organizações e ativistas de mais de 40 países e busca romper o bloqueio imposto por Israel há quase 18 anos.
Coordenador e porta-voz da delegação brasileira, Bruno Gilga falou ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, diretamente da embarcação Sirius. Na entrevista, ele destacou a força do ato de partida, realizado na Espanha, no último domingo (31). “Foi uma coisa histórica, monumental, memorável. Todo mundo que é veterano das missões tem destacado que nunca houve lançamento com a força que teve o lançamento em Barcelona”, celebra.
Segundo Gilga, a flotilha deste ano é a maior já organizada. “Essa missão é uma missão marítima, humanitária, não violenta, de solidariedade com a Palestina, maior do que todas as anteriores da história somadas”, afirma. A fome em Gaza atinge níveis catastróficos: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 2 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar severa em meio ao bloqueio imposto por Israel.
A missão é composta pelos ativistas brasileiros Thiago Ávila, Bruno Gilga Rocha, Lucas Farias Gusmão, João Aguiar, Mohamad El Kadri, Magno Carvalho Costa, Ariadne Telles, Lisiane Proença, Carina Faggiani, Victor Nascimento Peixoto e Giovanna Vial; além da vereadora de Campinas Mariana Conti (Psol) e da presidenta do Psol do Rio Grande do Sul, Gabrielle Tolotti.
O objetivo imediato da flotilha é “estabelecer um corredor humanitário popular para Gaza e abrir caminho para que a próxima missão seja dez vezes maior. Além disso, tem um objetivo muito forte de denunciar o processo de genocídio e conquistar o direito humanitário do povo palestino”, indica o porta-voz.
Risco de interceptação
Apesar de contar com parlamentares de diversos países, incluindo duas do Brasil, o coordenador lembra que não há expectativa de negociação com Israel. “Não temos nenhuma expectativa de confronto. Essa é uma missão não violenta, nós estamos levando ajuda humanitária. O que pode ter é um ataque contra essa missão, contra as leis internacionais e contra a vontade de milhões de pessoas ao redor do mundo que apoiam essa missão”, explica.
Em junho deste ano, uma embarcação da Flotilha da Liberdade também se dirigia a Gaza com ajuda humanitária e foi interceptada por forças israelenses. Doze tripulantes foram presos em águas internacionais, entre eles o brasileiro Thiago Ávila, que agora volta a participar da iniciativa.
Denúncia contra conivência internacional
Durante a conversa, Gilga também criticou a conivência de governos que mantêm relações comerciais e diplomáticas com Israel, apesar das violações em Gaza, e citou o Brasil como exemplo. “Lamentavelmente, a exportação de petróleo aumentou do Brasil para Israel. A Petrobras foi citada como uma das empresas [com participação em campos de onde saiu petróleo exportado a Israel] no relatório A Economia do Genocídio, que mostra companhias que lucram diretamente do genocídio”, destaca.
O relatório mencionado pelo entrevistado foi divulgado em 30 de junho pela relatora especial da ONU, Francesca Albanese, e denuncia a conivência internacional com o bloqueio a Gaza. O documento aponta que empresas como BP e Chevron responderam por cerca de 8% das importações israelenses de petróleo entre outubro de 2023 e julho de 2024, complementadas por embarques de petróleo extraído de campos brasileiros, nos quais a Petrobras é sócia majoritária. O texto ressalta, porém, que o destino final do óleo é definido por distribuidoras estrangeiras.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.