O cantor e compositor Gilberto Gil vive momentos de tristeza absoluta com a morte da sua filha Preta Gil, de 50 anos, no dia 20 de julho, mas também de despedida dos palcos cheia de aplausos e glórias com a realização da sua última turnê por todo o Brasil. Ele estará sábado (6) no Estádio Beira-Rio, no seu último show em Porto Alegre, marcado em 2024. Antes, sexta-feira (5), receberá no Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), campus Centro, às 14h, o título de Doutor Honoris Causa, uma homenagem de magnitude do mundo acadêmico.
A participação presencial é exclusiva para integrantes da comunidade acadêmica, que devem apresentar o comprovante de vínculo com a universidade. Serão 60 ingressos para acompanhamento presencial do evento no Auditório Jacarandá e mais 160 para acompanhamento da transmissão no Auditório Ipê, onde será instalado um telão. A transmissão do evento pode ser acompanhada também pelo canal da Ufrgs TV no YouTube, com interpretação em Libras. O evento é uma cerimônia solene, e não haverá show de Gil.
A concessão do título foi aprovada pelo Conselho Universitário (Consun) no dia 1° de abril deste ano. “A decisão considerou o currículo impressionante e a importância histórica de Gil, além de seu amplo reconhecimento, nacional e internacionalmente, pelas atividades artísticas, políticas e intelectuais. Foi considerada, ainda, a notória postura ética do artista em defesa da democracia e da diferença em diversos níveis e espaços”, segundo nota divulgada pela assessoria de comunicação.
O parecer do conselho abordou ainda a história de Gilberto Passos Gil Moreira, nascido em Salvador, em 26 de junho de 1942, destacando o início de sua carreira artística, seus primeiros trabalhos em disco e a graduação pela Universidade Federal da Bahia. O texto salienta, ainda, a ida do músico na década de 1960, juntamente com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Zé e Gal Costa, para São Paulo e para o Rio de Janeiro, onde participou dos principais festivais de música da época.
“Defesa da democracia, da diversidade e das diferenças”
A proposta para a concessão do Honoris Causa foi elaborada pelo Departamento de Antropologia e encaminhada ao Consun pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Além de álbuns coletivos e de trilhas sonoras que compôs, Gil gravou 17 LPs e 9 CDs de estúdio e teve número equivalente de gravações ao vivo, sem contar as centenas de shows que realizou em diversos países.
“Gilberto Gil utilizou a canção popular como veículo privilegiado para difundir protestos, inquietações e reflexões de abrangência intelectual incomum. Sua poesia e seus posicionamentos públicos foram exemplares, ao longo de todos esses anos, na defesa da democracia, da diversidade e das diferenças”, aponta o parecer.
O texto do órgão universitário destacou ainda a liderança do artista na Tropicália e suas atitudes corajosas na produção de vanguarda no momento mais duro da ditadura civil-militar, que resultou na sua prisão e exílio em 1968, em Londres, principalmente. “Em vez de calar-se, o músico continuou suas atividades nos anos seguintes, denunciando, no exterior, aquilo que se passava no Brasil”, sustenta o parecer, que segue abordando a carreira política de Gilberto Gil, como gestor da cultura e administrador público, com destaque para o cargo de ministro da Cultura, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Neste tempo de ministério – cinco anos, de 2003 a 2008 –, Gil foi responsável pela concepção e implementação de diversas políticas públicas para a promoção da diversidade artística, cultural e étnica, como o Sistema Nacional de Cultura, a reformulação da Lei Rouanet, o Plano Nacional de Cultura, o Vale-Cultura e especialmente o Programa Cultura Viva – Pontos de Cultura.
“Sua maior contribuição para a política cultural brasileira está na reformulação radical do próprio objeto e do âmbito de atuação, uma vez que Gil trocou a noção elitista e restrita de cultura, que marcara o ministério até aquele momento, por uma definição mais ampla do termo, tomada de empréstimo, exatamente, da Antropologia.”, descreve o parecer.
O conselho destacou ainda que Gil recebeu uma série de distinções nacionais e internacionais como: a Ordre des Arts et des Lettres (1990) e a Ordre National de la Légion d’Honneur, do governo francês (2005); a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, do governo português (2005); algumas das maiores honrarias concedidas pelo Estado brasileiro, tais como a comenda da Ordem de Rio Branco (1990), a Ordem Nacional do Mérito (1997) e a Ordem do Mérito Cultural (1999); além de diversos prêmios musicais e títulos conferidos pela Unesco, tais como Artista pela Paz (1999) e Embaixador da Boa Vontade da FAO (2001). Gilberto Gil também é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2022. Em 2014, no âmbito das comemorações dos 80 anos da Ufrgs, o artista proferiu uma “aula-espetáculo” no Salão de Atos da Universidade.
Gil está casado com Flora Gil desde 1988 e teve oito filhos/as: Preta Gil, Bela Gil, Pedro Gil, Maria Gil, Bem Gil, Nara Gil, Marília Gil, José Gil. Dois já morreram: Preta, de câncer, este ano, e Pedro, aos 19 anos, em acidente automobilístico em 1990. Tem 12 netos e três bisnetos.
*Com informações da Assessoria de Comunicação da Ufrgs