A comemoração dos 80 anos da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, realizada em Pequim, na China, na última quarta-feira (3), reuniu o presidente chinês Xi Jinping, o presidente russo Vladimir Putin e o líder norte-coreano Kim Jong-un em um encontro que, segundo o economista e professor Elias Jabbour, sinaliza um novo momento na geopolítica internacional.
“O país com o peso da China […] reuniu condições ao longo das últimas décadas e, principalmente, ao longo da última década, de ser um polo gravitacional importante do mundo”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Para Jabbour, diante da instabilidade promovida pelos Estados Unidos sob a gestão do presidente Donald Trump, que tem adotado uma política externa marcada por tarifas comerciais, sanções e desmonte de organismos multilaterais, “a China aparece como um mar de estabilidade” e “vai, sim, se organizando enquanto protagonista internacional, mesmo contra a sua própria vontade”.
O professor destaca que a guerra na Ucrânia, iniciada em 2022, fortaleceu laços estratégicos entre Pequim e Moscou. Em resposta à invasão russa, os EUA e a União Europeia impuseram sanções econômicas severas contra o país, afetando principalmente o setor energético e financeiro. A China, por sua vez, ampliou seus negócios com a Rússia, comprando petróleo e gás, além de fortalecer projetos conjuntos de infraestrutura e energia.
“O principal fato econômico e geopolítico da atualidade é essa integração produtiva total entre China e Rússia, que envolve a construção conjunta de centenas de projetos”, afirma. O economista lembra ainda que a Índia também se aproxima da aliança eurasiática. Segundo ele, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi “dobrou a aposta no seu nacionalismo […] e, ao dobrar sua aposta em um ataque direto dos Estados Unidos, ele se rende a uma aliança estratégica e mais íntima com a China”.
Sul global e novas instituições
Na visão do pesquisador, a política externa de Trump tem acelerado a integração de países emergentes. “Cada vez que os Estados Unidos se movimentam, […] aceleram o processo de transformação do sul global em um grande mercado regional”, analisa.
Para Jabbour, embora o Brics ainda seja importante, é a Organização para Cooperação de Xangai (OCX), que se reuniu nesta semana, que se consolida como contraponto ao G7, que reúne as principais economias ocidentais industrializadas (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá).
“Eu acredito que a grande instituição hoje […] é a Organização de Cooperação de Xangai. O Brics ainda não passa de um mecanismo político”, diz.
Taiwan e limites do confronto
Questionado sobre Taiwan, considerada por Pequim uma província rebelde desde 1949 e apoiada militarmente pelos Estados Unidos, Jabbour aponta que a China não deve acelerar um confronto direto, a não ser diante de uma declaração formal de independência.
“Na visão de tempo histórico deles, a questão de Taiwan vai ser resolvida nos próximos 100, 150 anos, ou seja, a história vai resolver essa questão”, explica.
Ele acrescenta que, apesar das pressões militares e comerciais dos EUA, “dificilmente a China vai ser tragada para uma guerra, a não ser que envolva Taiwan. Fora isso, acho que a China não deve cair em provocações.”
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