O secretário de Guerra dos Estados Unidos, Pete Hegseth, chegou a Porto Rico nesta segunda-feira (8) para acompanhar os militares no navio anfíbio USS Iwo Jima, que está na ilha. A visita do estadunidense acontece na semana seguinte em que a Casa Branca anunciou o deslocamento de 10 caças F-35 para a ilha dentro da operação de combate ao narcotráfico e em meio a ameaças dos EUA contra a Venezuela.
Ele afirmou que a presença de militares na região não era um treinamento e reforçou o objetivo de combater a passagem de drogas no sul do Caribe. “O que vocês estão fazendo agora não é treinamento; é um exercício real em nome dos interesses nacionais vitais dos Estados Unidos para acabar com o envenenamento do povo americano”, disse.
Além de fazer declarações públicas contra a Venezuela, a própria governadora de Porto Rico, Jenniffer Gonzalez, expôs a intenção da Casa Branca de promover uma pressão contra Caracas com esse deslocamento militar. Em publicação nas redes sociais, ela chamou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro de “narcoditador”.
“Agradecemos a Trump por reconhecer o valor estratégico que Porto Rico tem para a segurança nacional dos Estados Unidos e a luta contra os cartéis de drogas em nosso hemisfério, perpetuados pelo ‘narcoditador’ Nicolás Maduro. Apoiamos a política EUA, primeiro para proteger nossos cidadãos e nossas fronteiras”, disse a governadora.
Protestos contra Hegseth
Manifestantes se reuniram em Porto Rico para criticar a presença do secretário estadunidense na ilha, as atividades dos navios na região e a possível reativação de bases militares. A organização Mães contra a Guerra convocou o ato com o lema “Porto Rico sem milícia, queremos justiça”.
A porta-voz do grupo, Sonia Santiago, disse que Porto Rico é um povo “invadido” por Washington e expressou a oposição às bases militares na região. Ela também denunciou as ameaças contra a Venezuela.
“Agora, da nossa grande nação caribenha e latino-americana, os EUA querem invadir a Venezuela. Isso me lembra o que aconteceu no Iraque. Eles inventaram essa farsa do tráfico de drogas para ocupar a Venezuela e roubar seus recursos”, disse.
A Marinha estadunidense usou até 2003 a região de Vieques, em Porto Rico, como um espaço de teste de armas que afetou as comunidades locais e teve um impacto ambiental ainda calculado pelas organizações porto-riquenhas. O Exército dos EUA afirmam ter removido mais de 129 mil dispositivos explosivos.
Em 1999, um atentado a bomba matou David Sanes, um civil que não atuava em operações militares. O caso revoltou a população, que passou a protestar pelo fim da presença militar dos EUA na ilha. Em 2003, o país retirou as tropas de Porto Rico.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, respondeu a essa visita. Em entrevista à emissora russa RT, o mandatário afirmou que a governadora de Porto Rico quer transformar a ilha no epicentro da “operação militar” dos EUA contra a Venezuela.
“E agora eles dizem que têm Porto Rico, que o chefe do Pentágono chegou a Porto Rico, e a governadora de Porto Rico disse que Porto Rico era a base para uma operação militar contra a Venezuela. Ela disse isso. A governadora de Porto Rico está se juntando a um plano militar”, afirmou.
ONU nega preocupação
O governo venezuelano tem usado o Relatório sobre Drogas de 2025 da Organização das Nações Unidas (ONU) para combater a narrativa de que o Caribe seja uma região de intenso fluxo de drogas. Segundo o documento, cerca de 87% da droga produzida na América do Sul sai pelo Oceano Pacífico e apenas 5% pelo Caribe.
Para o governo venezuelano, essa operação e o relatório da ONU mostram que os interesses dos EUA na região é o petróleo venezuelano.
“Eles estão atrás de muitas coisas. Primeiro, eles estão atrás de petróleo, não de tráfico de drogas; é petróleo, é gás. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, que agora estão aumentando graças aos novos fatores de recuperação disponíveis com a tecnologia petrolífera. Tem a quarta maior reserva de gás, que está em todo o Caribe, justamente para onde essas pessoas enviaram a frota”, disse Maduro.
Caracas tem dito que não há mais plantações expressivas de qualquer droga em território venezuelano. O governo afirma que tem uma operação contundente contra o tráfico e a produção de drogas no país.
“Nós conseguimos apreender e destruir 70% dessa droga que a ONU diz que tenta sair pelo Caribe. Nós acabamos praticamente com o tráfico de drogas no país”, disse Maduro.
Ameaças dos EUA
O discurso do ministro faz uma relação direta com a operação dos Estados Unidos na região. Há três semanas, a Casa Branca anunciou a mobilização de tropas para o sul do Caribe para “combater o narcotráfico”. Mas as declarações do presidente Donald Trump vieram acompanhadas de ameaças contra o governo venezuelano.
A tensão aumentou na região nas últimas semanas, depois que os Estados Unidos subiram o tom contra o governo Maduro. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usariam “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
Depois disso, agências de notícias internacionais começaram a noticiar o envio de navios militares para a região. Ao todo, seriam três embarcações com 4 mil soldados estadunidenses que foram deslocados ao sul do Caribe para combater o tráfico de drogas. Na terça-feira (26), o cruzador de mísseis guiados USS Lake Erie e o submarino USS Newport News teriam sido incorporados à missão, além de uma nova tropa francesa, segundo a CNN.
Em resposta, o governo venezuelano anunciou que deslocaria uma tropa para o sul do Caribe e 15 mil soldados para a fronteira com a Colômbia. O presidente Nicolás Maduro promoveu, ainda, um alistamento em massa de voluntários à Milícia Nacional Bolivariana nas últimas semanas.
A milícia bolivariana é uma organização formada em 2009 composta por civis e militares aposentados em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em diferentes contextos — urbano e rural. O grupo passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.
Na semana passada, a Casa Branca divulgou um vídeo nas redes sociais, no qual uma lancha aparece navegando e, minutos depois, explode ao ser atacada por uma bomba estadunidense. A publicação, no entanto, não tem detalhes como localização, horário, identificação da embarcação e muito menos quem fez o disparo da bomba. Caracas disse que o vídeo foi feito por Inteligência Artificial.No final de semana, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que os Estados Unidos querem fazer uma mudança violenta de regime no país. O mandatário afirmou que Donald Trump deve abandonar essa ideia, que vem sendo encabeçada pela elite estadunidense.