Foi realizada na última terça-feira (09) mais uma reunião da comissão organizadora ampliada da 48ª Romaria da Terra, no Santuário do Caaró, em Caibaté (RS). O evento puxado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pela Diocese de Santo Angelo, além de movimentos sociais e organizações populares e sindicais, recebeu o reforço do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e de representantes da etnia Mbya Guarani.
Além de avançar no processo metodológico de construção da Romaria, que acontece no dia 17 de fevereiro de 2026, feriado de Carnaval, o encontro teve viés de formação, onde foi compartilhada a visão de espiritualidade dos indígenas guarani e apresentado aos demais participantes a cenário atual de organização, lutas empreendidas e violações sofridas pelos indígenas no RS.
Também foi confirmado no encontro a realização do 15º encontro “Sepé Tiarajú”, que vai reunir indígenas de todos os territórios guarani do RS, tanto das Tekoás existentes em territórios já demarcados, quanto das áreas de retomada que estão em plena luta por reconhecimento. Ficou decidido que a infraestrutura do encontro será construída em conjunto com a Romaria da Terra, comungando do espaço sagrado do Santuário do Caaró.
O momento de formação foi assessorado de forma conjunta por Andrei Oss-Emer, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o cacique Eloir Werá Xondaro, da retomada Tekoá Nhe’engatu, de Viamão, que refletiram sobre o bem viver desde a cosmovisão Mbya Guarani, chamado nhandereko. A abordagem trouxe pontos de reflexão sobre a filosofia de vida, organização social, conhecimentos ancestrais e cosmovisão do povo Guarani, que interliga a vida a todo o território e ao ambiente, valorizando o coletivo, a sabedoria e a harmonia com a natureza.
Compromisso de caminhar juntos
“Nessa reunião que realizamos hoje conseguimos dar passos importantes na estruturação da romaria, avançamos na formação das comissões, divisão das responsabilidades, combinando as ações que vão ser construídas nos próximos meses”, avaliou o bispo da diocese de Santo Ângelo, Dom Liro Meurer.
Relembrando os 400 anos da presença dos jesuítas e a construção da história missioneira, Dom Liro saudou a chegada dos representantes do Povo Guarani à comissão organizadora ampliada da Romaria da Terra. “Teremos bonitos momentos de convívio, troca e aprendizado com nossos irmãos e irmãs”, concluiu.

Lisiane Quevedo, da coordenação da Romaria, afirmou que a presença do povo Guarani revigora a espiritualidade e valoriza a ancestralidade de todo o povo missioneiro, cuja formação está entrelaçada com os indígenas.
“Acredito que vai ser um espaço de escuta, de aprendizado e de profunda espiritualidade”, comentou. “A ecologia integral só acontece de fato se houver respeito pelas comunidades tradicionais e povos indígenas, a valorização da cultura e a demarcação dos seus territórios aqui no RS”, acrescentou.
Os trabalhos de divulgação e mobilização devem ser intensificados nas próximas semanas. “400 anos de Evangelização Missioneira: Terra Sem Males e Ecologia Integral” é o tema da 48ª Romaria da Terra do RS. Já o lema é “Eu vi um novo Céu e uma nova Terra” (Apocalipse 21,1).
“Nós existimos, estamos aqui e vamos continuar”
O cacique Eloir Werá Xondaro, da retomada Tekoá Nhe’engatu, de Viamão, comentou sobre a atividade: “Queremos agradecer ao grupo da Romaria da Terra, que foi receptivo com o povo Guarani. É importante fazer parte dessa caminhada, destacar o respeito com a diferença cultural, a diferença entre os povos”. Para o cacique o momento é importante para os Mbya Guarani, “é uma ferramenta de luta, nos fazer visíveis na sociedade”.
Sobre a 15ª edição do encontro Sepé Tiaraju, Eloir pontuou que o momento para o povo Guarani“é de grito, de pedir socorro, de refletir sobre tudo o que tem sido feito e do que ainda é preciso fazer, chamar a atenção da sociedade de que a gente existe, a gente está aqui e vai permanecer”.
A próxima reunião ampliada da Romaria da Terra está marcada para o dia 25 de novembro, no mesmo local.