O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse nesta quarta-feira (17) que não aceita ameaças dos Estados Unidos. A declaração se dá em meio ao aumento das ameaças estadunidenses no sul do Caribe e da retirada de Bogotá do certificado de combate às drogas.
O mandatário também afirmou que o governo de Donald Trump se engana pelas “máfias políticas” colombianas que levaram o país a uma guerra interna. Ele não explicou quem seriam esses grupos.
“Não me ameacem. Estou esperando vocês aqui. Não aceito invasões, mísseis e assassinatos. Aceito inteligência. Venham falar com inteligência e receberemos vocês. Sem mentiras. Não se deixem enganar pelas máfias políticas colombianas que nos condenaram a 700 mil mortos, ao país mais desigual do mundo e a ter um maior nível de desigualdade. E eu estou solicitando isso e vocês estão se beneficiando. Queremos ajudar a entrar menos cocaína no seu país”, disse Petro.
O mandatário colombiano afirmou também que os EUA precisam corrigir a sua política de combate às drogas e afirmou que a Europa também pode aprender com os países sul-americanos a fazer esse enfrentamento. Segundo o colombiano, a estratégia de “contar mortos” não funciona, e é preciso ampliar a importância dos camponeses e pequenos produtores para ocupar as zonas rurais.
A declaração de Petro vem na esteira de uma troca de postagens nas redes sociais. A embaixada dos EUA em Bogotá afirmou que a gestão do presidente colombiano é responsável pelo aumento do cultivo de coca e da produção de cocaína na América do Sul.
“Sob a liderança equivocada de Petro, o cultivo de coca e a produção de cocaína na Colômbia atingiram níveis históricos. Os Estados Unidos agradecem às forças policiais e de segurança colombianas que estão enfrentando narcoterroristas e reconhecem sua coragem, habilidades e sacrifícios.”
Petro já havia respondido pelas redes sociais e disse que um dos principais responsáveis pelo aumento da produção no país foi a política do ex-presidente Iván Duque, que seguiu a política estadunidenses de fortalecer paramilitares e favorecer grupos organizados de tráfico de drogas.
Retirada da certificação
A decisão dos EUA de tirar a Colômbia da lista de países que combatem o narcotráfico é o pano de fundo para toda a discussão entre Washington e Bogotá e tem impacto no financiamento para o governo colombiano.
A classificação dos países que cooperam com os EUA vem da Lei Antidrogas de 1986. A norma determina que a Casa Branca identifique os países que mais produzem as drogas que entram nos Estados Unidos e então fomenta ações para combater a produção nesses países. Entre as metas estipuladas pelo programa, também está o combate à lavagem de dinheiro, o suborno e a corrupção.
A lei também orienta que os países processem pedidos de extradição relacionados a drogas para os EUA, além de cooperar com as agências policiais dos EUA. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a produção de cocaína aumentou 53% em 2023 e a área de cultivo de coca subiu para 253.000 hectares no mesmo ano.
Além do apoio militar, os EUA também financiam ações para o combate ao tráfico de drogas. O Escritório de Washington para a América Latina (WOLA) estima que a Colômbia recebeu mais de US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões) em ajuda do governo estadunidense em 2024.
A Colômbia tem sido, por décadas, um dos principais aliados de Washington na região. Em 1999, os EUA iniciaram o Plano Colômbia, cujo objetivo era ampliar o “combate à insurgência”. Os estadunidenses investiram US$ 1 bilhão (R$ 5 bi) em 2000, triplicando seu orçamento e representando 80% da assistência militar para toda a América Latina.
Nos anos 2000, com o desenvolvimento do Plano Colômbia, o país recebeu bilhões de dólares em assistência militar. No entanto, essa ajuda — juntamente com as sete bases militares que os Estados Unidos mantêm na Colômbia — não conseguiu reverter o grave problema das drogas.
A certificação era concedida à Colômbia desde 1997 com o ex-presidente Ernesto Samper. Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato afirmam que o corte no financiamento pode ser de 30 a 40% dos recursos financeiros do governo colombiano no combate às drogas.
Petro também respondeu a essa decisão e disse que o país continuará com a política de combate da forma que acredita ser a correta, mas que a justificativa dos EUA é um “insulto ao país”. Ele também disse que aprendeu muito mais na política de combate ao tráfico do que “Iván Duque, amigo de Trump”.
Ele reforçou também que a Colômbia conseguiu atingir números “históricos” de apreensões de drogas, em contraposição a uma política antidrogas “totalmente fracassada” dos Estados Unidos.
“Trump, te faço o convite para abandonar suas amizades com as máfias da Flórida e nos ouvir, os governantes da América Latina. Precisamos falar cara a cara, sem mentiras, com inteligência e números reais”, disse.
Trump tem insistido na narrativa de que não só a Colômbia, mas principalmente, a Venezuela é responsável pela entrada de drogas nos Estados Unidos. Ele, no entanto, não apresentou provas para isso. O relatório da ONU sobre drogas de 2025 contradiz os argumentos do republicano. Segundo a organização, cerca de 87% da droga produzida na América do Sul sai pelo Oceano Pacífico e apenas 5% tenta sair pelo Caribe.