O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta sexta-feira (19) que desistiu de viajar aos Estados Unidos, onde participaria das assembleias gerais da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), após restrições de circulação impostas a ele pelo governo de Donald Trump.
Padilha é um dos alvos da campanha de Trump contra o governo brasileiro. No último dia 15 de agosto, a esposa e a filha dele tiveram os vistos para viajar aos EUA cancelados em retaliação contra o programa Mais Médicos. O ministro estava com o documento expirado, mas foi informado na ocasião que não poderia obter um novo visto.
Diante da proximidade dos eventos da ONU e da Opas, que acontecerão em Nova York e na capital dos EUA, Washington, na próxima semana, o ministro acionou as representações consulares estadunidenses em busca de um visto atualizado. Ele foi autorizado, porém, a circular exclusivamente por Nova York, em endereços pré-determinados (à exceção de situações de emergência, quando poderia procurar atendimento em hospitais). Não poderia, portanto, participar do evento da Opas.
“São inaceitáveis as condições. Eu sou o ministro da Saúde do Brasil, quando vou a um evento como esse, tenho que ter plena possibilidade de participar das atividades às quais nós somos convidados”, disse, em entrevista ao canal GloboNews na tarde desta sexta.
As restrições foram informadas pela Missão dos EUA para as Nações Unidas ao Ministério da Saúde do Brasil. Em comunicado oficial, a pasta destacou que a decisão viola acordo internacional dos Estados Unidos com a ONU e impede o Brasil de apresentar suas propostas no fórum global de saúde do continente americano. Ainda na conversa com a GloboNews, o ministro informou que, no evento, o Brasil anunciaria investimentos em fundos da Opas para compra de vacinas e medicamentos de combate ao câncer.
“As restrições não são feitas a mim enquanto pessoa. Eu, como pessoa, não tenho interesse nenhum em fazer uma viagem, andar por determinado lugar. São restrições ao ministro da Saúde do Brasil. As restrições inviabilizam a presença do ministro da Saúde no Brasil em atividades que ele tem de fazer parte”, completou durante a entrevista, destacando que havia previsão de reuniões bilaterais em embaixadas de outros países e sedes de organizações privadas.
O Ministério da Saúde confirmou o cancelamento da viagem em nota oficial, e disse que a medida do governo Trump não é uma retaliação ao ministro, e sim “ao que o Brasil representa na luta contra o negacionismo que retira o direito de crianças de se vacinarem e guia os retrocessos relacionados à saúde que a população norte-americana enfrenta”.
Em carta encaminhada aos ministros da Saúde dos países-membros da Opas, Padilha escreveu que a restrição de visto é “uma decisão arbitrária e autoritária, que afronta o direito internacional e prejudica a cooperação harmônica entre países soberanos”.
“Merecem repúdio decisões desse tipo, pois elas põem em xeque a experiência democrática daquele país. Ainda assim, faço questão de reiterar que esse não é o espírito único do povo e das instituições estadunidenses”, prossegue o documento (leia a íntegra clicando aqui).
Sem Padilha, a comitiva do governo Lula tem embarque previsto para Nova York no domingo (21). Os eventos da Assembleia Geral das Nações Unidas começam na segunda-feira (22). Na terça-feira (23), o presidente brasileiro faz o discurso de abertura do evento, mantendo a tradição que vem desde a década de 1950. A assembleia pode marcar o primeiro encontro de Lula e Trump, em meio à crise diplomática entre os dois países.