Utilizado para separar o ouro do cascalho, o uso de mercúrio na mineração causa impactos até na cadeia alimentar em pelo menos 17 municípios de seis estados na região Amazônica. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizada em centros urbanos do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima revela que peixes do território apresentaram níveis de contaminação pelo componente químico acima do limite aceitável (maior ou igual a 0,5 µg/g), estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O levantamento aponta que os piores índices estão em Roraima, com 40% de peixes com mercúrio acima do limite recomendado, e Acre, com 35,9%. Por outro lado, os menores indicadores estão no Pará, com 15,8%, e no Amapá, com 11,4%. Na média, 21,3% dos peixes comercializados nas localidades e que chegam à mesa das famílias na região Amazônica têm níveis de mercúrio acima dos limites seguros.
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Em entrevista ao programa Bem Viver, o pesquisador Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), ressaltou ainda mais preocupação com dados do estudo ao considerar a cultura alimentar na região e situação do pescado ser a principal fonte de proteína para algumas pessoas.
"Em algumas épocas do ano, as pessoas se alimentam de pescado no café da manhã, no almoço, no jantar, no lanche da tarde, na ceia. Então tem uma frequência de consumo que, às vezes, é de quatro a cinco vezes por dia", explica.
O estudo foi realizado de março de 2021 a setembro de 2022, com amostras coletadas nos municípios de Altamira (PA), Belém (PA), Boa Vista (RR), Humaitá (AM), Itaituba (PA), Macapá (AP), Manaus (AM), Maraã (AM), Oiapoque (AP), Oriximiná (PA), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Santa Isabel do Rio Negro (AM), Santarém (PA), São Félix do Xingu (PA), São Gabriel da Cachoeira (AM) e Tefé (AM). Foram avaliados 1.010 exemplares de peixes, de 80 espécies distintas, comprados em mercados, feiras e diretamente de pescadores, simulando o dia a dia dos consumidores locais.
Transformação
Paulo Basta ainda explicou que o mercúrio é considerado um metal em transição, o que significa que pode assumir diferentes formas a depender de ser deslocamento por diferentes compartimentos ambientais. Ao mesmo tempo, o pesquisador lembra que esse componente não tem nenhuma função metabolismo no organismo humano, ao reforçar a necessidade de se evitar a contaminação.
O estudioso ainda afirma que há uma transformação do mercúrio utilizado pelos garimpeiros nos compostos encontrados na cadeia alimentar na região.
"Esse recurso utilizado pelo garimpeiro é liberado dentro do leito do rio e quando cai, por ter uma densidade muito maior que a da água, desce para o fundo do leito – no lodo. Esse mercúrio sofre um processo de transformação química e se transforma no metilmercúrio", afirma ao ressaltar que mudança é ainda mais danosa para os seres vivos.
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"Metilmercúrio é uma forma orgânica do mercúrio, considerada a forma mais tóxica para os seres humanos e para outros. Isso porque justamente vai entrar na cadeia trófica alimentar. Ele vai afetar todos seres vivos. Não só os pescados, mas, por exemplo, algas, pequenos crustáceos, larvas de inseto, tartaruga, tracajá, jacaré. Todos os animais que vivem é dentro do ambiente aquático, podem se contaminar com esse mercúrio. E todos os seres vivos que se alimentam de produtos provenientes desse rio, como pescado e outros produtos, também podem se contaminar", alerta.
Nos seres humanos, a contaminação pode causar desde dificuldades motoras, a problemas de visão e alterar outros sentidos, além de afetar o campo neurológico. Há um agravamento dos riscos para as mulheres gestantes, como explica Basta, porque a concentração de mercúrio atravessa a placenta e contamina o cérebro dos fetos.
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