Sem diálogo com professores e equipes pedagógicas das escolas, o governo do Paraná, diante da paralisação das aulas pelo coronavírus, optou por educação a distância (EaD). Iniciativa que vem sendo contestada por especialistas e professores entrevistados pelo Brasil de Fato Paraná. Foram ouvidos também relatos de erros, dificuldades de acesso e desgaste para os profissionais da educação.
Para a professora e pesquisadora da área de tecnologias educacionais na Federal do Paraná (UFPR), Glaucia Britto (foto), o que está sendo feito na rede estadual nem pode ser considerado EaD. Para ela, uma boa educação a distância demora para ser planejada. “Uma disciplina que eu planeje demora, pelo menos, seis meses para todos os materiais, recursos e as aulas estarem disponíveis. Não dá para ser no improviso, como vem sendo feito pela Secretaria”, diz. Há relatos de alunos e famílias que nem sequer conseguiram acesso à internet, professores que passam o dia inteiro tentando orientar famílias que não conseguem acompanhar e outras práticas que têm gerado revolta.
Da direção da APP Sindicato, a professora Walkiria Mazzeto conta que o governo, inicialmente, suspendeu as aulas. Mas, com pressão, especialmente das escolas privadas, voltou atrás. “Houve uma pressão para cima do Conselho Estadual de Educação para que regulamentasse como válidas as aulas não presenciais.” A partir disso, o Conselho normatizou que deveria ser feita uma avaliação caso a caso. “As direções de escolas, junto com sua mantenedora, deveriam avaliar se teriam condições de executar as aulas não presenciais. Mas isso não foi feito. A Secretaria impôs para a rede inteira as aulas não presenciais, independentemente das condições”, explica Walkiria.
Além do início das aulas ter ocorrido sem consulta aos professores, a Secretaria contratou uma empresa de tecnologias educacionais e a TV Record (para teleaulas), cuja rede de transmissão cobre apenas 28% dos municípios do Paraná. Para a professora Glaucia, não seria necessário inventar a roda. “Além de não terem ouvido especialistas da própria Secretaria, não validaram o que já existia por lá, como a “TV Paulo Freire”, hoje chamada de “Educaplay”, o portal “Dia a Dia”, entre outros.” A proposta ideal, segundo Glaucia, seria trabalhar com experiências que já existem.
Professores relatam erros
Segundo a dirigente sindical Walkiria Mazzeto, a Secretaria de Educação do Paraná tem feito ameaças aos professores e alunos. “Eles dizem que os professores que não entrarem na plataforma para colocar suas aulas serão descontados. E os alunos levarão falta. Uma plataforma que em celulares
e computadores antigos simplesmente não funciona.”
Uma professora de história do ensino fundamental (que não quis ser identificada) relatou ao Brasil de Fato Paraná que, dos seus 27 alunos, apenas um entrou e acessou suas aulas. “Estou ali no sistema como foi pedido, mas até agora um aluno entrou. Tenho outros colegas narrando o mesmo.” Outra professora, da área de biologia, conta que ao entrar em sua plataforma paradeixar as aulas, se deparou com um link para aulas de artes. “Fiquei o dia inteiro orientando osalunos, que ficaram me perguntando se era para fazer atividadesde artes na minha aula de biologia.”
De acordo com relatos também recebidos pela APP-Sindicato, o governo estaria usando, sem autorização, a conta vinculada ao e-mail institucional dos professores em uma plataforma virtual de ensino para postar conteúdos e os estudantes estariam recebendo e-mails como se tivessem sido enviados pelos professores da turma.
A APP abriu um canal de denúncias no e-mail [email protected] e também encaminhou denúncia ao Ministério Público do Trabalho e para professores,
alunos e pais.