Em audiência pública realizada pela Câmara Municipal de Curitiba, nesta sexta-feira (22), lideranças de movimentos sociais, pesquisadores e autoridades destacaram a urgência de Curitiba resgatar as histórias das pessoas negras na construção da cidade.
O evento foi uma iniciativa da Comissão Especial da Visibilidade Negra, criada pelo Legislativo para analisar e revisar as denominações de monumentos e edificações públicas, com o objetivo de ampliar a presença do povo no contexto histórico e turístico da cidade.
A vereadora Carol Dartora (PT), presidente da comissão, destacou que Curitiba chegou a ter 40% de população negra, mas que atualmente esse percentual é 20%. Explicou também que a população negra tem um sentimento de não pertencer à cidade, porque não se vê representada nos espaços públicos.
“Então é mais do que urgente que a gente possa fazer essa revisão e por isso eu fico radiante de saber que a gente chega neste momento na Câmara, tendo essa comissão de visibilidade, onde a gente pode tratar dessas temáticas a partir desse espaço institucional”, disse Dartora.
A vereadora Professora Josete (PT) foi enfática ao dizer que vivemos em uma sociedade racista e pontuou que o trabalho da comissão da Visibilidade Negra fortalece o compromisso com a luta antirracista.
“É urgente, é necessário e é inadiável esse debate sobre a visibilidade da presença negra na nossa cidade. Nós sabemos que Curitiba não é, nem nunca foi, uma pequena Europa, como insistem alguns saudosistas de uma aristocracia que a gente pode dizer falida”, disse.
Defensora Pública da União, Rita Cristina Oliveira citou que participou do grupo de trabalho que deu origem à proposta de criação da Comissão da Visibilidade Negra no Legislativo. Em sua fala, destacou que a iniciativa está em consonância com a Constituição e lembrou aspectos históricos que foram construindo o racismo estrutural presente na sociedade e nas instituições.
“Tudo isso forma uma subjetividade, um funcionamento institucional que é hostil às pessoas negras. É urgente que isso seja reparado através de medidas políticas e jurídicas e essa comissão está fazendo esse trabalho e eu espero que chegue até o seu final com êxito no sentido de propor diversas ações de reparação histórica", comentou.
Rede de Mulheres Negras, Comissão Estadual da Igualdade Racial da OAB do Paraná, Coletivo Enedina/UFPR, Coletivo Resistência Ativa Preta, Secretaria Estadual do Movimento Negro do PDT do Paraná, Movimento Negro Unificado, Enegrecer e Movimenta Feminista Negra também fizeram uso da fala, saudando a iniciativa da Comissão da Visibilidade Negra e reforçando a urgência de avançar em políticas de reparação da memória do povo negro em Curitiba.
A audiência durou cerca de três horas. Todas as sugestões e contribuições apresentadas pelos especialistas e pela comunidade serão encaminhadas pelos membros da Comissão de Visibilidade Negra, podendo resultar em projetos de lei.