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Artigo

Maria da Conceição Tavares, uma das maiores oradoras do Brasil, pregava a moderação aos berros

Economista relembra episódios que revelam eloquência, verve e paradoxos da colega de profissão

13.jun.2024 às 23h22
São Paulo (SP)
Paulo Nogueira Batista Jr.

Em entrevista recente, Maria da Conceição Tavares se dizia confiante no futuro do Brasil: 'Eu não desisto desse país' - Fernando Frazão/Agência Brasil

A comoção provocada pela morte de Maria da Conceição Tavares é mais uma demonstração da força incontrastável da sua personalidade vulcânica. Ela impressionava não só pelo seu conhecimento e inteligência, mas também – e nisso era insuperável – pela verve e eloquência.

O Brasil teve dois grandes oradores nas décadas recentes – ela e Brizola. Quando Conceição pegava a palavra – e, especialmente, quando conseguia conter um pouco seus rompantes – ela brilhava intensamente e deixava marcas inesquecíveis. Ainda me lembro dela num evento em Buenos Aires, nos anos 1980, irritada com o radicalismo dos argentinos, exclamando: "Vocês são uns românticos alemães!" para depois desenvolver toda uma argumentação em favor da moderação e do equilíbrio. Observação agudamente perspicaz a dela. Quem conhece a Argentina e o romantismo alemão há de concordar que existe, sim, um parentesco que ajuda a entender a atração pelo abismo dos nossos queridos vizinhos.

Em outra ocasião, presenciei um debate dela com estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pressionada por intervenções hiper esquerdistas da plateia, ela explodiu: "A ideologia é uma plataforma precária!". Advertência fundamental. Conceição não deixava de ser ela mesma uma ideóloga, como é natural, mas nos ensinava que sem estudo, conhecimento e ciência não se chega nem na esquina.

Esses dois episódios são reveladoras de um traço do seu caráter. Conceição era um paradoxo ambulante – defendia a cautela com o máximo de exaltação, pregava a moderação aos berros. Só quem a conhecia um pouco mais de perto sabia que a sua fúria retórica escondia uma personalidade essencialmente moderada.

Conto mais um episódio revelador. Em 1987, eu fazia parte de uma pequena equipe de assessores do ministro da Fazenda, Dilson Funaro – outro gigante, diga-se de passagem – que preparava no maior sigilo a moratória da dívida externa. Apesar dos nossos cuidados, à medida que se aproximava a data marcada para a suspensão dos pagamentos, começaram a ocorrer alguns vazamentos. Os rumores chegaram aos ouvidos dela, que na época assessorava o ministro do Planejamento, João Sayad, deixando-a preocupada, para não dizer alarmada.

Conceição saiu em busca de informações. Chegando no Ministério da Fazenda, ela topa comigo no corredor que levava à sala do ministro Funaro. Ela agarra meu braço com força, quase me derrubando, e dispara: "Paulinho, vocês não pensam que vão fazer a moratória, não é mesmo?". E me olhava fixamente, cravando os olhos nos meus. Eu não queria mentir, fiz cara de paisagem e desconversei, dizendo algo como: “Fique tranquila, a questão da dívida está sendo tratada com todo cuidado”. Ela bufou e seguiu em frente, passo firme, a caminho talvez de interpelar o próprio Dilson Funaro.

Era assim Conceição Tavares: trovejava e relampejava, parecia uma alucinada às vezes, mas se mostrava cuidadosa e ponderada nos momentos críticos. Por isso sempre digo: cuidado com os mansos, os discretos, os que raramente levantam a voz. Esses é que tomam as Bastilhas de assalto.

Destaco mais um aspecto notável da trajetória dela. Lembre-se, leitor ou leitora, que duas circunstâncias limitaram muito a sua repercussão pública. Primeira: nunca teve cargos de relevo no governo federal. Em determinado momento, nos anos 1990, creio que Conceição teve a pretensão de tornar-se presidente do Banco Central. "Temos que tirar o Banco Central das mãos dos bandidos", bradava. Não conseguiu. Desde então, esse cargo foi ocupado quase sempre por figurinhas carimbadas do mercado financeiro. Conceição ficou de fora e nunca teve a projeção automaticamente conferida por funções de destaque na área econômica do governo.

Outra circunstância adversa: ela foi mandada para a Sibéria pela mídia tradicional. E para sempre. Sofreu uma espécie de exilo interno. Nunca voltou das estepes geladas. Raramente era entrevistada, os seus artigos quase nunca chegavam às páginas dos jornais, a sua voz não chegava à rádio e muito menos à televisão.

Apesar disso, apesar da censura sistemática, apesar de não galgar posições no governo, a voz de Conceição ecoava forte por todo o país. Era admirada, respeitada e temida. Ai de quem se descuidasse na presença dela! Qualquer deslize ou inconsistência suscitava reações fulminantes. Eu mesmo, quando a encontrava, tomava o máximo de cuidado para não dizer nada de remotamente controvertido e desencadear alguma explosão.

Com o surgimento das redes sociais, a sua projeção se ampliou. A mídia convencional perdeu o seu monopólio e pessoas como Conceição puderam participar mais do debate público. Muitos que ainda não a conheciam ficaram deslumbrados com o seu brilho, capacidade polêmica e vasto conhecimento – não só de economia, mas de política, história e cultura. Viram o seu compromisso inabalável com o Brasil. E, ao mesmo tempo, as sua indignação com as injustiças sociais e a extrema desigualdade na distribuição da renda e da riqueza no nosso país. Gravações das suas aulas e palestras viralizaram.

Ela vem sendo intensa e merecidamente homenageada nos últimos dias. Porém, muitos dos que falam elogiosamente sobre Conceição, postam fotos com ela e lamentam a sua morte pouco ou nada têm a ver com o seu pensamento e a sua pregação. Lágrimas de crocodilo. Ela teria recebido essas homenagens a patadas.

Machado de Assis dizia de um recém-falecido, pela boca de um dos seus personagens: “Está morto, podemos homenageá-lo à vontade”. Só lamento que Conceição não tenha sido ainda mais reconhecida e homenageada em vida.

* O autor é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata, segunda edição, 2021.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Editado por: Martina Medina
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