A Igreja Católica tem no Brasil e no mundo um papel importante nos combates à mazela da mineração em conflito com os territórios. Por isso e pelo poder de espacialização e formação de opinião, também, sofre diversas tentativas de cooptação das mineradoras.
Para conversar sobre isso e colocar o posicionamento da igreja católica no Rio Grande do Sul contra os projetos de mineração que ameaçam os territórios rurais e urbanos, o jovem Padre, Eduardo de Oliveira, Pároco da Paróquia São José, na cidade de São José do Norte, nos extremo sul do estado concedeu entrevista ao site do MAM.
Para ele: “a igreja católica é parceira e desde já todos nossos católicos devem se posicionar sobre esse tema tão delicado e importante”.
Confira abaixo:
MAM: Como o senhor avalia esses projetos de mineração aqui no Rio Grande do Sul
Eduardo de Oliveira: De acordo com o mapeamento realizado pelo MAM eu tive acesso a gama de minerais que possui o nosso estado e os projetos que querem se instalar. No meu ponto de vista, esses projetos são desrespeitosos e desleais com as pessoas que moram nesse “campominado” pretendido pelas mineradoras, pois as mesmas, através de mentiras tenta de qualquer custo minerar, tendo em vista seu próprio interesse e não os interesses das pessoas que vivem no local pretendido. E todo valor gerado pela mineradora à comunidadeé irrisório frente o lucro da empresa, por isso temos que estar muito atentos com esses projetos no RS, porque quando o capital fala mais alto que os interesses sociais são muito perigoso.
MAM:O senhor é a favor da mineração em São José do Norte?
E.O: Obviamente não, porque nessa cidade nós temos uma população que vive praticamente da pesca e da agricultura e a economia está baseado nessas atividades. Na área urbana, temos comércio, mas muito fraco, porque a maioria das pessoas vão até o municípiovizinho de Rio Grande para fazer compras e adquirir serviços. Com a terra revirada pela mineração, a água contaminada, de onde vai sair o sustento desse povo? Esse povo simples vai perder a vida digna adquirida pelo seu trabalho. Aquilo que poderia ser um avanço aparentemente, com a chegada da mineração, é na verdade um retrocesso, porque os agricultores e os pescadores não estão sendo pensado pela mineração.
MAM: Como a igreja pode lutar contra a destruição dos territórios?
E.O: A nossa igreja católica em São José do Norte está muito bem representada e muito bem distribuída pelas 25 comunidades, sendo que 19 delas estão no interior do município. Então a medida que nós vamos nos organizando e conscientizando as pessoasa respeito da mineração, nós já vamos criando uma postura. E desde que o MAM chegou em São Jose do Norte, eu fui percebendo uma conscientização das pessoas, porque na medida que o povo tem clareza da situação ele também pode opinar. Por isso temos que unir mais esforços e sempre digo que a igreja católica é parceira e desde já todos nossos católicos devem se posicionar sobre esse tema tão delicado e importante.
MAM: As igrejas geralmente sofrem cooptação pelas mineradoras. Na sua opinião, porque isso acontece?
E.O: Porque a igreja é formadora de opinião. A nota dos Bispos da região Sul lançada no da 19 de março, dia de São José. Ali explicitamente está o posicionamento contra a mineração, porque a igreja deve estar comprometida com a verdade e com os maissimples, como assim fez Jesus, que em toda sua vida lutou por aqueles que não tinham sua dignidade respeitada. E, pensando na expropriação do trabalho dos agricultores e pescadores pela mineração, a igreja precisa se posicionar. Dessa forma, se as mineradoras,cooptam a igreja não é por um interesse social, mas majoritariamente, econômico.
MAM: São José do Norte tem que ser um território livre de mineração?
E.O: Lógico, eu não vejo outra forma cultural de vida a longo prazo, que não seja esse povo plantando cebola e vivendo da pesca. Evidente que quem propõe uma mineração nessa cidade não está pensando nessas pessoas. Por isso São José do Norte precisaser área livre de mineração.
Artigo original publicado em MAM.