Olá, nem o novo Papa faz o milagre do Banco Central baixar os juros no Brasil.
Bolsa Faria Lima. Gabriel Galípolo já entrou para a história ao elevar a taxa Selic para o mais alto patamar em duas décadas. Galípolo não atendeu aos pedidos de Lula, que o nomeou, mas não decepcionou os desejos insaciáveis do mercado financeiro. Nas últimas semanas, o presidente do BC trabalhou para deixar claro para a Faria Lima que continuava comprometido com a política de seu antecessor, Campos Neto. Mais calminho, a dúvida que paira no mercado é se a Selic já está alta o suficiente e fica neste patamar ou se o BC deveria aumentá-la ainda mais. O consenso é que para baixo ela não vai. Evidentemente, Galípolo e a Faria Lima agora justificam pelo cenário externo a necessidade de manter a Selic estratosférica. Antes, era a capacidade fiscal do Estado, mesmo que o governo Lula tenha os melhores resultados dos últimos dez anos neste campo. A desculpa de controlar a inflação também não cola, afinal os sucessivos aumentos não fizeram os preços recuarem e, agora, a queda do dólar e do petróleo não sensibilizaram a tecnocracia do BC para reduzir a Selic. Na melhor das hipóteses, a Faria Lima sinaliza que pode permitir que o BC deixe a taxa em 14,75%. O fato é que enquanto estrangula a economia, o BC concede uma bolsa trilionária de ajuda aos banqueiros, transferindo, a cada ponto percentual na Selic, R$50 bilhões dos cofres públicos para os bancos. Mas se depender do destino do seu mestre Campos Neto, Galípolo não tem com o que se preocupar. O ex-presidente do BC acaba de ser anunciado como alto executivo do Nubank, depois de uma gestão que facilitou em muito a vida das fintechs, como a sua nova empregadora.
.O fio do novelo. O escândalo do INSS não tem hora para acabar. Isso porque as investigações ainda não desvendaram a complexidade do esquema montado. A consequência é que, sem um entendimento desta arquitetura, o governo não consegue mapear adequadamente pessoas e valores para fazer a devolução. E, mesmo sem consenso de onde deve sair o dinheiro, o governo quer resolver logo a questão para diminuir a sensação de negligência. Outro motivo de preocupação é a pecha de corrupção que o tema carrega. Até porque, para lamento da esquerda, a fraude no INSS já repercute mais nas redes que a pauta da jornada 6 x 1. Ressabiado em repetir o roteiro do escândalo do Pix, quando um vídeo de críticas veiculado pelo deputado Níkolas Ferreira (PL/MG) viralizou, o Planalto organiza uma contraofensiva na área da comunicação para se descolar do escândalo. Seguindo a lógica de que a melhor defesa é o ataque, a ideia é mostrar que as fraudes começaram a ser montadas lá nos tempos de Temer e Bolsonaro, e se não fosse Lula deixar a PF trabalhar, elas nunca teriam vindo à tona. Por isso, há até quem no PT defenda a instalação da CPI. Aliás, o que atrasa a aprovação da CPI é que nesse angu tem mais caroço. Os esquemas podem respingar no Exército, no agronegócio, no TCU, e na Faria Lima. Afinal, o esquema do INSS teve por base as relações carnais entre algumas entidades sindicais, , algumas delas com livre circulação no Planalto, e instituições financeiras. Este é o caso da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), que era assessorada por Cícero Marcelino, sócio-administrador do Terra Bank, entidade que operava os descontos ilegais de aposentados e pensionistas vinculados à Conafer. Outro exemplo é o Banco Master, cujas ligações levam ao senador Ciro Nogueira, presidente do PP. E tem mais. O Fundo Garantidor de Crédito emitiu mais de 30 alertas para o Banco Central sobre fraudes no INSS e, aparentemente, nenhuma medida foi tomada. Isso durante a gestão de Campos Neto no BC. Tudo isso talvez explique a cautela do centrão com a CPI. O certo é que aposentados e pensionistas viraram uma fonte de dinheiro fácil para instituições financeiras de todo tipo. Independentemente das responsabilidades, quem sai perdendo é a previdência pública. Não por acaso já se ouvem os clamores do mercado por uma nova reforma da previdência.
.Arejar a cabeça. Lula precisou ir ao outro lado do mundo para tentar trazer boas notícias e deixar para trás a imobilidade da agenda política, antes ocupada pela anistia dos golpistas e, agora, pelo caso das fraudes do INSS. A expectativa da comitiva brasileira é voltar de Moscou e de Pequim com acordos na área de ciência e tecnologia e, possivelmente, uma bolada no Banco dos BRICS para a área energética. Mas a viagem também chama a atenção sobre qual será a postura do governo brasileiro com os principais parceiros do BRICS num mundo onde Donald Trump ocupa a Casa Branca. Até aqui, a postura do Planalto era de cautela, tanto em enfrentar os EUA quanto em apostar em parcerias com a China, recusando a participação na Nova Rota da Seda, por exemplo. Mesmo que o Itamaraty insista numa política pendular, agradando a ambos os lados sem se comprometer com nenhum, a viagem pode significar uma mudança de rumo, considerando que o discurso brasileiro elevou um pouquinho o tom com Trump nas últimas semanas. Não que a semana fora do país seja mais tranquila para Lula, já que o Brasil ocupa a presidência dos BRICS, justamente no momento em que um dos seus membros, a Ìndia, está escalando o conflito com o Paquistão. Mas o tempo conta para o governo tentar contornar a possibilidade de uma CPI do INSS e até a revolta fake do PDT, impulsionada por Ciro Gomes, que não valeu para os senadores e não é consensual na Câmara. Além disso, Lula evita assistir à nova briga entre a Câmara e o STF, com a tentativa de uma anistia a fórceps com a suspensão do processo contra Alexandre Ramagem. Na volta, o governo espera retomar a ofensiva da agenda política, jogando no próprio campo, com o tema da escala 6 x 1 e a isenção do Imposto de Renda.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.O esgotamento mental de quem tem vários trabalhos. Quando o glamour do cansaço esconde doenças relacionadas ao trabalho. Na Revista Gama.
.Data centers: o Brasil se submeterá às big techs?. No Outras Palavras, Antônio Martins alerta dos riscos para os dados brasileiros na parceria com big techs para construir data centers.
.Brasil já está preparado para adoção da escala 4×3, aponta estudo da Unicamp. No ICL, o estudo da Unicamp que comprova a viabilidade da jornada de trabalho de 36 horas.
.Barragens com risco de rompimento na Amazônia podem atingir área maior que a de Porto Alegre. Quase metade das barragens de mineração na Amazônia estão classificadas com risco de acidente e dano potencial humano médio ou alto. No InfoAmazônia.
.Do grito de guerra ao discurso machista: o que está por trás do movimento Legendários. O que é o movimento cristã-militarista e misógino impulsionado por influencers. No Az Minas.
.Héctor Germán Oesterheld: a prática de um heroi coletivo. A história do autor da série “O Eternauta”, desaparecido político argentino junto com as quatro filhas, três genros e dois possíveis netos nascidos em cativeiro. Na Ópera.
Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.