O aval do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para o conceito do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF), apresentado pela Petrobras para a exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas, reacendeu o debate sobre os riscos ambientais da medida. O projeto prevê simulações para testar a capacidade de resposta em caso de derramamento de óleo, mas, para o professor Wagner Ribeiro, do departamento de pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), esse tipo de plano não é capaz de medir os impactos reais de um acidente.
“Não faz o menor sentido esse tipo de ação”, afirmou Ribeiro, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Animais bentônicos, que vivem no fundo do mar e são microscópicos, não têm a menor capacidade de ser avaliados. Uma molécula de óleo é muito maior e mais densa do que eles. Eles vão sucumbir”, lamenta.
Segundo ele, embora animais maiores, como aves, peixes e golfinhos, possam ser contemplados em simulações de resposta, a base da cadeia alimentar marinha ficaria desprotegida. “É mais uma história para inglês ver”, diz.
“O risco é real e pode ocorrer”
Além das limitações técnicas do plano, o professor alerta para a impossibilidade de prever a extensão de um desastre com petróleo. “Nós tivemos um derramamento no governo anterior [do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)], até hoje inexplicado, que pegou toda a costa do litoral nordestino. Gerou impactos extraordinários para populações caiçaras, pesca, turismo. E até hoje não sabemos de onde veio o óleo”, relembra.
Ribeiro chama atenção para o cenário político e institucional do país. “Hoje há um governo com alguma preocupação ambiental. Mas, numa mudança de poder, com outro governo mais conservador, quem vai garantir que haverá controle e fiscalização? O risco está posto. Ele existe, é real e pode ocorrer”, reforça.
O professor argumenta que o Brasil pode, e deve, prescindir da exploração petrolífera. “O Brasil tem alternativas. Pode sair na frente com o biodiesel, com energia eólica descentralizada, e também com a energia maremotriz. O Amapá, inclusive, tem grande potencial nessa área”, exemplifica. “Estamos, com esse tipo de projeto, inviabilizando inclusive a produção de energia limpa”, acrescenta.
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