O ataque do Irã a bases militares dos Estados Unidos no Iraque e no Qatar foi uma resposta previsível à ofensiva norte-americana contra instalações nucleares iranianas, segundo o professor e pesquisador de Relações Internacionais Ricardo Leãs. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele lembra que, em 2020, após o assassinato do general Qasem Soleimani, o Irã já havia adotado estratégia semelhante. “Essa me parecia como uma maior possibilidade e, de fato, aconteceu”, afirma.
Segundo Leãs, o presidente dos EUA, Donald Trump, tenta parecer um “homem forte” com atitudes provocativas, mas demonstra preocupação ao agradecer publicamente o Irã por ter avisado sobre os ataques. “Trump sempre utiliza o deboche como um recurso retórico. Mas, mesmo assim, deixou claro que esse é o momento da paz, e que tanto Irã quanto Israel têm que buscar um caminho nesse sentido”, indica.
Para o professor, o discurso de que o Irã estaria rendido ou enfraquecido é fruto de desinformação. “A imprensa dizia que o Irã já teria esgotado o seu arsenal de mísseis, mas nada disso é o que estamos vendo na prática”, aponta. Leãs ressalta que o Irã tem vantagens em uma guerra de atrito. “É um país montanhoso, com população dez vezes maior que a de Israel, e historicamente capaz de resistir mesmo com desvantagem tecnológica”, diz.
“A capacidade de resistência dos iranianos é expressiva, e isso tem que ser levado em consideração na possibilidade de uma guerra longa, na qual Israel não teria nenhuma condição de enfrentar os iranianos. Ao longo da sua história, Israel sempre procurou travar guerras rápidas e decisivas. A única exceção é a guerra em Gaza”, indica. Ele destaca que “a guerra não é um jogo de super-trunfo, em que quem tem mais poder vence. A história mostra que povos mais fracos podem resistir quando lutam por sua sobrevivência”.
O pesquisador também critica a dependência da política externa dos EUA em relação a Israel, apontando o poder do lobby sionista no Congresso. No entanto, vê uma mudança em curso. “Há pressão crescente na sociedade civil estadunidense, inclusive entre republicanos trumpistas, para reduzir a influência israelense”, revela.
Apesar do potencial militar iraniano, Leãs acredita que o país não busca uma guerra aberta. “O Irã sabe que ataques diretos a soldados americanos poderiam precipitar um movimento mais agressivo de Trump. Eles estão caminhando em cima de ovos”, observa. Segundo ele, o país tenta preservar o apoio internacional que vem conquistando, sobretudo no Sul Global.
Sobre o posicionamento da Rússia, que sinalizou um possível fornecimento de armas ao Irã, o professor vê o movimento com cautela. “A Rússia joga dos dois lados, com Israel e com o Irã. E está envolvida numa guerra contra a Ucrânia. Talvez, se esse conflito terminar, haja um estreitamento mais concreto entre Moscou e Teerã”, analisa.
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