A Esquina Democrática, tradicional ponto de manifestações no centro de Porto Alegre, foi palco na manhã desta quinta-feira (10) de um ato que reuniu movimentos sociais, centrais sindicais, sindicatos e parlamentares em defesa da soberania nacional. A mobilização também tratou das pautas do Plebiscito Popular 2025, como a taxação dos super-ricos, justiça social, redução da jornada de trabalho, fim da escala 6 x 1 e a defesa do país, em um cenário marcado por tensões diplomáticas com os Estados Unidos após anúncio de novas tarifas sobre produtos brasileiros.

Tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos
Mesmo tendo sido convocado antes do anúncio feito por Donald Trump de uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras, o ato repercutiu a indignação com a interferência no país. Trump justificou a medida alegando “injustiça” comercial e atacou o sistema Judiciário brasileiro, chamando o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro de “caça às bruxas” e denunciando supostas ordens de censura de plataformas digitais no Brasil.

Apesar das críticas, dados oficiais indicam que os Estados Unidos mantêm um saldo positivo de mais de 400 bilhões de dólares no comércio com o Brasil nos últimos 15 anos. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a independência das instituições brasileiras e mencionou a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril, que autoriza o governo a adotar medidas equivalentes.
A deputada estadual Sofia Cavedon (PT) lembrou que o Brasil tem ampliado suas relações com outros mercados: “Lula aplicará a lei de reciprocidade. Os Estados Unidos pouca influência terão sobre nós, porque as maiores relações comerciais do Brasil hoje são com a China”.
Plebiscito Popular: construção de unidade e participação
O ato na Esquina Democrática também teve urna para a coleta de votos do Plebiscito Popular 2025 no Rio Grande do Sul. A iniciativa busca promover a discussão sobre temas como a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos super-ricos. Além disso, foi lançado o plebiscito sobre a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae).

Segundo os organizadores, a meta nacional é coletar cerca de 15 milhões de votos em dois meses, com urnas físicas espalhadas por bairros, sindicatos, movimentos e comunidades rurais. Os resultados serão sistematizados e entregues ao Congresso Nacional e ao governo federal até setembro.
A vereadora Juliana Souza (PT) destacou a importância de ampliar o debate sobre justiça fiscal: “O presidente Lula acertou quando chamou o povo para lutar pelo fim da mamata dos bilionários e da isenção de impostos para quem só explora o trabalho do nosso povo”.
Fim da escala 6×1 e a disputa por justiça fiscal
Um dos principais eixos do ato foi o questionamento do modelo de escala 6×1, que prevê apenas um dia de descanso semanal para seis dias trabalhados. Representantes sindicais apontaram que o tema está parado no Congresso Nacional, mesmo com projetos protocolados.
A deputada federal Fernanda Melchionna (Psol) criticou a lentidão para discutir o tema: “O fim da escala 6×1 está protocolado há meses. A taxação das grandes fortunas está parada há 10 anos. Quem ganha até R$ 5 mil não pode pagar tributos, mas tem que aumentar enormemente a taxação dos milionários”.

Neiva Lazzarotto, dirigente da Intersindical, também vinculou a mobilização à defesa de direitos trabalhistas e à soberania econômica. “Estamos aqui por causa da postura de um Congresso que defende os ricos e os super-ricos. Defendemos a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5mil e o fim da escala 6×1.”

Privatizações e soberania nacional
Embora o plebiscito popular tenha pautas nacionais como foco central, o ato em Porto Alegre também trouxe debates locais, incluindo críticas a propostas de privatização de serviços essenciais como o Dmae. Manifestantes defenderam o caráter público desses serviços como parte da soberania nacional.
Sofia Cavedon apontou a relação entre a soberania nacional e a proteção de serviços públicos: “Defender soberania passa por uma discussão de cidade e de garantir o que é público”.
A voz dos movimentos e lideranças
Diversas falas durante o ato expressaram críticas ao alinhamento de setores brasileiros com interesses estrangeiros. O vereador Giovani Culau (PCdoB) destacou o tema da dependência internacional: “O Brasil é dos brasileiros. Quem bate continência para a bandeira dos Estados Unidos é o quê? Traidor. Eles são apenas 1% dos super-ricos e querem taxar o Brasil e o povo”.
O deputado estadual Halley Lino (PT) alertou para o papel das elites na manutenção de desigualdades. “Essa elite é capaz de impedir a taxação das grandes fortunas e de impedir o fim da jornada 6×1. Eles não medem esforços para lamber as botas dos Estados Unidos, mesmo prejudicando o nosso povo.”
O vereador Jonas Reis (PT) reforçou preocupações sobre recursos naturais e militarização. “Se trata de dizer não ao bolsonarismo, não ao trumpismo, não ao imperialismo, que querem colocar bases militares aqui no Brasil e estão de olho na nossa Amazônia, no nosso petróleo, no nosso minério.”

Esperança e mobilização popular
Entre os presentes, o clima era de construção de diálogo com a população para ampliar o envolvimento popular. Mariana Dambroz, uma das organizadores do plebiscito popular no estado, ressaltou a necessidade de conscientização. “É uma mobilização nacional pelo fim da escala 6×1 e pela taxação dos super-ricos. Queremos taxar quem ganha acima de R$ 50 mil e garantir isenção para quem recebe até R$ 5 mil. Queremos viver com dignidade.”
O vereador Erick Denil (PCdoB), enfatizou as contradições do sistema tributário. “Enquanto criminalizam quem ocupa para ter uma casa, o Congresso bate palma para quem tem iate, helicóptero, cruzeiro. É fundamental que a gente não saia das ruas para garantir direitos.”
O deputado estadual Adão Preto Filho (PT) sintetizou o sentimento de muitos manifestantes ao lembrar que “não há mal que sempre dure” e que as lutas populares buscam garantir um futuro diferente: “Queremos um Brasil do povo brasileiro e ditadura nunca mais”.
“Quem realmente defende o povo brasileiro?”, questionou a deputada estadual Luciana Genro (Psol). Segundo ela, a extrema direita, que até então dizia “Brasil acima de tudo”, agora assiste a taxação proposta por Trump, por culpa da família Bolsonaro. “Enquanto isso, o Congresso e o bolsonarismo seguem inimigos das causas sociais e dos verdadeiros interesses do povo. É hora de tomar as ruas para dizer não ao imperialismo de Trump, defender a população brasileira, com o fim da escala 6×1, taxação das grandes fortunas e isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Hoje foi o início de uma agenda de lutas em defesa do Brasil!”, concluiu.
