O ativista Gene Santos, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Ceará, criticou o que ele chamou de contradição na campanha de defesa da soberania nacional, adotada pelo governo Lula (PT) em resposta às tarifas sobre os produtos brasileiros anunciadas pelos Estados Unidos.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta terça-feira (22), ele afirma que “não tem como ter soberania com pessoas passando fome, com pessoas ainda não tendo acesso à educação”.
O MST ocupou, nesta segunda-feira (21), a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no estado cearense. A mobilização faz parte da Jornada Nacional de Lutas do movimento, realizada nas cinco regiões do país em alusão ao Dia do Trabalhador e da Trabalhadora Rural, celebrado em 25 de julho. O ato acontece um dia após o movimento lançar uma “carta à sociedade brasileira” em que denuncia a lentidão de órgãos do governo na execução de políticas públicas pela reforma agrária.
“Queremos reafirmar a necessidade de uma reforma agrária popular no sentido da construção da soberania em nosso país”, reforça Santos. A principal cobrança do movimento é o assentamento imediato das cerca de 100 mil famílias acampadas em todo o país, além da ampliação do acesso a crédito para produção de alimentos saudáveis e de políticas públicas que fortaleçam os assentamentos já existentes.
De acordo com ele, há uma concentração de recursos públicos no agronegócio, em detrimento da agricultura familiar. “O agronegócio produz mercadorias para exportação. Quem coloca comida na mesa do povo é a agricultura familiar camponesa. O agronegócio destrói a natureza, produz miséria no campo, e o orçamento brasileiro beneficia esse modelo”, protesta.
O ativista acredita que a falta de orçamento e a burocracia dificultam ainda mais o acesso aos poucos recursos existentes. “No Brasil, nós não temos uma política de reforma agrária. No máximo, uma política de assentamento ainda muito tímida para desenvolver o campo rural do nosso país”, declara.
“Governo é ‘nosso’ mas precisa avançar”
Gene Santos reconhece avanços da gestão Lula na comparação ao governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas afirma que há frustração com a lentidão nas medidas concretas. “O governo Lula é um governo nosso, que é necessário defender. Mas temos clareza também que o governo precisa avançar mais. O programa Terra da Gente não passou de um programa. Não houve, concretamente, desapropriação de terra, nem avanço em relação aos créditos”, critica.
O coordenador reforça a expectativa de que o cenário mude até o fim do mandato. “Não se justifica acampamento há 20 anos nesse país. Temos a expectativa de que, ainda neste governo, possamos avançar na resolução da situação das famílias acampadas e no desenvolvimento dos assentamentos já existentes”, clama.
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