Na primeira metade do ano, a China exportou quase três vezes mais do que importou dos Estados Unidos. As exportações do país asiático para o estadunidense somaram 1,55 trilhão de yuans, o equivalente a R$ 1,2 trilhão, e, em troca, as importações China-EUA foram de 530,35 bilhões de yuans, pouco mais de R$ 410 bilhões.
Ou seja, a China voltou a ter um superávit comercial com os EUA de 1,019 trilhão de yuans — ou R$793,7 bilhões.
O tarifaço, que chegou aos níveis mais altos com a China (145%), foi criado com o objetivo declarado de “retificar práticas comerciais que contribuem para grandes e persistentes déficits anuais no comércio de bens dos Estados Unidos”.
Esse propósito está no nome da ordem executiva de Trump que criou as chamadas “tarifas recíprocas”. Após as rodadas de negociações de maio, as tarifas mútuas foram reduzidas para 10%.
Porém, Trump afirmou depois, que no total as taxas totais para a China se manteriam em 55%, somando 20% das impostas pela “questão fentanil” — os EUA culpam os chineses pela entrada de substâncias usadas na produção do opioide em território estadunidense — e outros 25% anteriores.
O superávit comercial China-EUA da primeira metade deste ano, de fato, significa uma queda na comparação com o mesmo período de 2024, quando o superávit comercial foi de 1,14 trilhão de yuans (R$ 887 bilhões).
Porém, a performance chinesa no primeiro semestre mostra uma realidade distante da anunciada ou descrita pelo presidente estadunidense.
Em maio, Trump afirmou que a China estava “indo muito mal”. Pouco depois, ao anunciar a primeira conversa com o presidente chinês Xi Jinping, o líder estadunidense mudou o discurso. “Não queremos prejudicar a China. A China vem sendo muito prejudicada, eles estão fechando fábricas, estão tendo muita agitação, e ficaram muito felizes em poder fazer algo conosco”, afirmou.
O economista Ding Yifang afirmou ao Brasil de Fato que a retaliação da China cumpriu um papel na redução das exportações chinesas para os EUA.
“A China reforçou o controle sobre a exportação de terras raras para os EUA, isso causou muitos problemas na indústria manufatureira estadunidense, especialmente na automobilística“, explica Ding, que é pesquisador sênior do Instituto Taihe.
O economista ainda nota que o comércio já voltou a crescer em junho, após as flexibilizações, tanto do controle sobre exportação de terras raras da China para os EUA, como da proibição da venda de semicondutores para a China, resultado das negociações entre os dois governos em Londres.
Segundo dados da Administração Geral das Alfândegas, as exportações da China para os EUA em junho aumentaram 5,8% em comparação com o mesmo mês no ano anterior, e um ponto percentual na comparação com maio. Já as importações, após uma queda registrada em maio (-3,4%), voltaram a crescer 1,1% em junho na comparação com o mesmo mês no ano anterior.
Ainda é cedo para afirmar que o tarifaço falhou no objetivo de equilibrar exportações e importações com a China. Mas considerando que a redução das tarifas permitiu a retomada já em junho do comércio bilateral, e, por outro lado, o fato de que os acordos não trazem concessões novas da parte chinesa (pelo menos o que se sabe publicamente), não parece haver motivos para um cenário diferente no final deste ano.
Queda com os EUA compensada com diversificação do mercado
O comércio entre os dois países no primeiro semestre de 2025 teve queda. As importações chinesas dos Estados Unidos caíram 7,7% e as exportações da China para o país norte-americano despencaram 9,9%.
Os números foram puxados pelo importante declínio interanual do comércio no segundo trimestre: uma queda de 20,8%.
Essa redução com os EUA foi, de certa forma, compensada pelos dois principais parceiros comerciais da China: a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) e a União Europeia (UE).
A Asean se tornou, em 2020, o principal parceiro comercial da China, superando EUA e UE. Nos primeiros seis meses deste ano, a Asean representou 16,8% do comércio exterior total da China (3,67 trilhões de yuans, cerca de R$ 2,8 trilhões). As exportações tiveram aumento de 14,3% e as importações, 2,3%.
No caso da UE, em segundo lugar, houve aumento no volume do comércio (3,5%) somando 2,82 trilhões de yuans (R$ 2,1 trilhões), e representando 12,9% do total.
As importações totais da China caíram 2,7%, em parte puxadas pela grande queda de 20,8% no volume de comércio com os Estados Unidos no segundo trimestre.
Já as exportações da China em geral cresceram 7,2%. O comércio geral da China com o Brics também aumentou.
No primeiro semestre deste ano, as importações e exportações da China com outros membros e países parceiros do Brics atingiram 6,11 trilhões de yuans (cerca de R$ 4,7 trilhões), um aumento de 3,9% em relação ao ano anterior, disse em coletiva da semana passada, Lyu Daliang, chefe do Departamento de Estatística e Análise da Administração Geral das Alfândegas.
O elemento do consumo interno no crescimento
O aumento do comércio com outros países e regiões foi um fator importante nos resultados econômicos do primeiro semestre da China, mas a demanda interna foi o principal motor do crescimento.
Nela, o consumo teve o principal destaque. O governo chinês continuou com uma estratégia lançada em 2024 para promover o consumo, que é o Plano de Ação para Promover a Troca de Bens de Consumo.
O governo central destinou para essa campanha 81 bilhões de yuans (R$ 63 bilhões), segundo dados do Ministério das Finanças.
O programa oferece subsídios de até 20% para que as pessoas troquem eletrodomésticos, veículos e outros produtos por modelos mais novos e eficientes em energia.
Segundo o ministro de Comércio chinês, Wang Wentao, o programa de troca gerou mais de 2,9 trilhões de yuans (R$ 2,2 trilhões) em receita de vendas de janeiro a junho deste ano, “beneficiando cerca de 400 milhões de participantes por meio de subsídios e diversos incentivos”.