O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou, nesta segunda-feira (28), que o governo brasileiro está, neste momento, em diálogo com autoridades dos Estados Unidos para tentar impedir a entrada em vigor de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, imposta por Donald Trump e prevista para começar a valer na próxima sexta-feira (1º), pode afetar mais de 10 mil empresas, de acordo com estimativa do governo.
A declaração foi dada durante uma coletiva de imprensa após a sanção do programa Acredita Exportação, no Palácio do Planalto. Alckmin explicou que as conversas vêm ocorrendo por canais institucionais e com caráter reservado. “Estamos dialogando neste momento”, afirmou. Segundo ele, um grupo de trabalho bilateral foi instalado em março e, desde então, o Brasil vem cobrando respostas formais do governo norte-americano.
O vice-presidente mencionou uma videoconferência realizada com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnik, e com o embaixador Grier. Também citou uma carta enviada pelo Brasil, em caráter confidencial, com uma série de pontos técnicos. A correspondência, enviada em maio, ainda não teve resposta. “Estamos conversando, estamos dialogando. E, tendo mais informação, eu passo para vocês”, declarou.
A fala de Alckmin ocorre horas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de pressionar diretamente o ex-presidente Donald Trump para que sancione o Brasil. Segundo Lula, a articulação seria uma tentativa de interferir nos processos judiciais que pesam contra Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com apuração do jornal O Globo, o governo brasileiro já trabalha com um plano de contingência para minimizar os efeitos do tarifaço, com foco na manutenção de empregos e na proteção dos setores mais vulneráveis.
Entre as medidas previstas estão linhas de crédito com juros subsidiados, compras públicas para absorção de estoques e a criação de um fundo privado emergencial, com exigência de contrapartidas sociais, como a preservação de postos de trabalho.
O governo dos EUA, segundo a agência Bloomberg, estuda editar uma nova declaração de emergência para sustentar juridicamente a medida. A tarifação, porém, ainda não foi formalizada.
“O cara que vivia enrolado na bandeira agora está pedindo para atacar o Brasil”
Lula também esteve presente na cerimônia do programa Acredita Exportação, mas não discursou.
Mais cedo, durante a inauguração da Usina Termelétrica GNA II, em São João da Barra (RJ), Lula fez duras críticas a Eduardo Bolsonaro. Segundo ele, o deputado teria deixado a Câmara para ir aos EUA pedir que o Brasil fosse taxado.
“O que fez o filho do coisa, deputado federal? Deixou a Câmara dos Deputados, foi para os Estados Unidos e pediu para o Trump taxar o Brasil”, afirmou Lula. Ao comparar a ação ao colaboracionismo histórico de Joaquim Silvério dos Reis, declarou: “Agora estão traindo o povo brasileiro”.
O presidente também ironizou os símbolos usados por Bolsonaro em sua campanha. “O cara que vivia enrolado na bandeira nacional agora está pedindo para atacar o Brasil. É uma falta de vergonha, uma falta de caráter, uma falta de patriotismo.”
Lula defendeu a importância de manter a responsabilidade diplomática nas relações entre Brasil e Estados Unidos, que já duram 201 anos. E reiterou: “A gente não quer briga, quer negociar. E ninguém me pega com preguiça de conversar”.
Diplomacia em campo e missão plural do Senado nos EUA
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em Washington para reuniões com autoridades locais.
Também está na capital estadunidense uma missão oficial do Senado Federal, liderada pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), Nelsinho Trad (PSD-MS).
A delegação inclui senadores de diferentes campos políticos, entre eles governistas, integrantes do Centrão e parlamentares bolsonaristas.
No domingo (27), chegaram a Washington os senadores Jacques Wagner (PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE) e Carlos Viana (Podemos-MG), que se reuniram com parlamentares que já estavam no país: Esperidião Amin (PP-SC), Teresa Cristina (PP-MS), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).
Segundo Trad, a comitiva tem reunião confirmada para esta terça-feira (29) com seis parlamentares dos EUA e tem como objetivo “abrir caminho” para o governo brasileiro e reforçar a disposição do país para o diálogo.
O senador também afirmou que não aceitará interferências externas contra a agenda da missão. A agenda oficial começou nesta segunda-feira (28), com reunião de trabalho na residência da embaixadora Maria Luiza Viotti.
