Não seria exagero afirmar a impossibilidade de se conhecer minimamente o processo de exploração das riquezas latino-americanas pelos países colonialistas sem a leitura da obra prima do uruguaio Eduardo Galeano de título “As veias abertas da América Latina”. Nesse livro, o autor faz uma importante descrição e análise dos históricos saques que vitimaram os povos latino-americanos em nome dos interesses econômicos e estratégicos de grandes potências ocidentais. Um exemplo objetivo trazido pelo autor foi a imensa exploração de prata na montanha Sumaq Urqu – “morro bonito”– em idioma quéchua, na cidade de Potosí na Bolívia, onde a Espanha acumulou imensas quantidades do metal precioso ao custo da opressão sobre os trabalhadores mineiros através de trabalhos forçados que levaram à morte de milhares de pessoas, efeitos típicos do capitalismo.
Essa relação de opressão das potencias colonialistas é trazida pelo livro de forma muito detalhada e exemplificativa de como principalmente os nossos povos indígenas foram dizimados pela ganância típica dos países opressores. Tamanho foi o roubo das riquezas de nosso continente que gerou imenso desenvolvimento econômico dos países usurpadores. Apenas para termos uma noção em relação ao Brasil, segundo especialistas, Portugal teria retirado mais de R$ 515 trilhões, embora muitos advoguem pela impossibilidade de quantificar em valores devido às diversas formas de roubo sofridas.

Quando observamos o mundo contemporâneo, podemos constatar que esse cenário não mudou muito, ou seja, os chamados países desenvolvidos continuam a operar pela lógica da exploração e tentativa de espoliação das riquezas alheias. Exemplo mais atual que temos foi a recente manifestação do encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos no Brasil que deixou nítido o foco do gigante norte americano sobre as nossas terras raras.
E o que são as terras raras?
São um conjunto de elementos químicos fundamentais para a produção e desenvolvimento das novas tecnologias, como os celulares, satélites, armas de última geração, etc… e por isso, constituem hoje a grande corrida estratégica dos países para o seu desenvolvimento, soberania e posicionamento geopolítico. Para termos a real noção da relevância desse assunto para nós brasileiros, as nossas terras raras constituem simplesmente a segunda maior reserva no planeta, ficando atrás apenas da China.

Nesse cenário, resta fundamental evitarmos uma “nova edição das Veias abertas da América Latina” através do uso soberano de nossas riquezas para o desenvolvimento e bem estar da nação. Nesse sentido, o presidente Lula acertou quando se manifestou firmemente em defesa dos nossos recursos naturais, mas isso não basta, pois os interesses estrangeiros detêm aliados dentro de nosso próprio país, e esses traidores da pátria não tem outro objetivo senão seus interesses pessoais em prejuízo do povo brasileiro.
Por isso, é preciso trabalhar para e pela conscientização da classe trabalhadora sobre a importância da defesa de suas riquezas, justamente como instrumento de enfrentamento das desigualdades que assolam os mais pobres. A luta pela soberania tecnológica deve traduzir-se em uma disputa de sentidos coletivos como pressuposto para a defesa e concretização das condições dignas de existência dos trabalhadores. Precisamos colocar em prática a reflexão de Galeano: “Não será a desgraça um produto da história, feita pelos homens e que pelos homens, portanto, pode ser desfeita?”. Para que as veias abertas do patrimônio brasileiro não voltem a escorrer para as mãos dos larápios de soberanias alheias, é preciso fortalecer no Brasil o sentimento de defesa popular do que é nosso.
Se apenas o povo liberta o povo, sem ele não há força suficiente para defender suas riquezas e deter a sede voraz dos países colonialistas!
*Fabiano Negreiros é militante comunitário.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
