Um templo dedicado à arte está nascendo no coração da Chapada Diamantina. Não é feito de pedra nem de dogmas, mas de bambu, bioconstrução, sonhos e muita arte visionária. O Merkaba Templo surge como resposta a um vazio na cena cultural brasileira: o apagamento das expressões estéticas ligadas aos estados não ordinários de consciência. Este espaço se propõe a acolher, amplificar e legitimar a potência simbólica de artistas que vivem e criam a partir de outras frequências.
“Nosso sonho é construir um lugar onde o movimento psicodélico possa se manifestar com dignidade, sensibilidade e liberdade estética”, explica Alex Jr. Azevedo, artista especializado em joalheria alternativa, um dos idealizadores do projeto e da galeria Visionariom Art. “A arte é o canal pelo qual essas culturas se expressam. Seja a cultura da floresta, do Daime, dos festivais ou das visões internas, todas elas têm direito a ocupar espaço e serem compreendidas não como delírio, mas como cultura.”

O templo será erguido dentro do Instituto Torus, organização que há anos atua com arte, cultura e sustentabilidade. Com mais de 400 m² de galeria coberta e uma grande área externa, o espaço será um centro de exposições, residências artísticas, imersões e festivais. Além de tudo isso, o espaço se propõe a ser um santuário. “A arte visionária parte do inconsciente. Ela é uma ponte entre o visível e o invisível. Quando a gente cria, está canalizando algo maior. E o templo precisa estar à altura dessa dimensão espiritual”, diz o artista.
Para mim, que acompanho há anos os caminhos da arte aliada às medicinas da floresta, não se trata apenas de estética: é política. É um grito delicado contra o racionalismo hegemônico e a medicalização da experiência. A arte visionária, quando feita com verdade, é uma grande oportunidade de transformação. “É como se fosse uma assinatura da cultura que existiu. A arte sempre foi o registro de uma civilização. É por isso que ela precisa ser levada a sério. Senão, o que vai ficar da nossa geração?”, questiona.
O Merkaba nasce também como resposta ao preconceito que ainda recai sobre artistas que transitam por estados ampliados de consciência, sejam provocados por rituais, silêncio, plantas mestras ou simplesmente pela entrega ao mistério. “Existe uma ideia de que o artista visionário é só ‘mais um doidão’. Mas por trás disso tem estudo, sensibilidade, rigor técnico e uma busca espiritual profunda. A gente precisa parar de se esconder e assumir: sim, criamos a partir da experiência com bioculturas e substâncias. E isso não nos diminui, nos amplia.”

Como espaço sem fins lucrativos, o templo está sendo viabilizado por meio de uma rifa coletiva que reúne mais de R$ 100 mil em obras e criações de artistas aliados ao movimento. A meta é arrecadar R$ 250 mil para a primeira fase de construção. Depois, o plano é realizar um festival de abertura no Réveillon de 2026, onde cada ingresso vendido será revertido no plantio de uma árvore.
“Nossa cultura perdeu a conexão espiritual com a existência. A arte visionária resgata isso. Não é sobre vender um conceito, é sobre abrir uma porta dentro de cada pessoa. E a gente sabe o quanto isso é transformador. Quantas vezes você já saiu de uma exposição com a sensação de ter sido tocado por algo que nem sabia que existia em você?”, provoca a fotógrafa, artista visual e cofundadora do templo, Carol Gouveia.
O Merkaba é mais do que um espaço físico. É uma tecnologia com base em ensinamentos espirituais. Inspirado na geometria sagrada que carrega no nome, ele se propõe a ser veículo de luz e um lugar onde mundos se cruzam e se reconhecem. Onde o invisível ganha forma e a forma devolve sentido ao invisível.
Saiba mais e participe da rifa pelo site.