Ouça a Rádio BdF

Crise e disputa na extrema direita brasileira escancaram racha e abrem janela para Lula, avaliam analistas

Especialistas destacam desgaste do bolsonarismo com falhas estratégicas de Eduardo Bolsonaro e aliados

A prisão da deputada Carla Zambelli (PL-SP) na Itália e o decreto do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que atinge as exportações brasileiras, revelam um momento de crise e fragmentação na extrema direita brasileira. Essa é a avaliação dos convidados do podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato, que discutiu nesta quinta-feira (31) os últimos desdobramentos envolvendo o clã do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a reação do governo Lula (PT) e o cenário que se desenha para as eleições de 2026.

O cientista político Paulo Roberto Souza vê no deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) uma tentativa de se posicionar como herdeiro político do bolsonarismo, mas com estratégias desastradas. Nos EUA, o parlamentar é acusado de tentar, em aliança com Trump, interferir no julgamento do pai, réu por tentativa de golpe de Estado. “Mais do que um infantil, podemos olhar para Eduardo […] como um azarão, um underdog”, avalia.

Segundo ele, o filho de Bolsonaro tenta ocupar o espaço de uma nova liderança da extrema direita num momento em que o ex-presidente está fragilizado e sob medidas cautelares, como a tornozeleira eletrônica. “Obviamente, o tiro está saindo pela culatra, estamos vendo o que está acontecendo nos últimos dias”, aponta.

Já José Genoino, ex-presidente do PT, enxerga uma disputa mais profunda em curso. “O imperialismo está fazendo uma disputa de poder político na América Latina. […] E o Brasil, com seu potencial, com as suas relações e participando dos Brics, é uma ameaça”, avalia. Para ele, a extrema direita brasileira não é nacionalista, mas “entreguista, vassala, que coloca o interesse de uma família acima de tudo”.

Sobre a atuação do governo Lula diante da crise, Souza avalia que o presidente e sua coalizão conseguiram capitalizar o episódio, especialmente ao defender a soberania nacional. “Acho que Lula fez um excelente papel de bancar essa disputa […], de trazer esse discurso e voltar a disputar a ideia de nação, de patriotismo”, opina. Genoino concorda, dizendo que “apareceu na mesa dele uma grande oportunidade, e no fundamental ele tem se posicionado corretamente”.

Os analistas também apontam que a extrema direita tende a manter sua força eleitoral no curto prazo, apesar dos escândalos. Mas, segundo alerta Genoino, “nós, da esquerda, temos que adotar uma tática para deslegitimar o bolsonarismo, pois ele está sofrendo derrota, mas não está extinto”.

Também ocorrida nesta semana, a prisão de Carla Zambelli é um episódio “quase de coluna social”, na visão de Souza, e revela um traço estrutural do bolsonarismo. Uuma das características da extrema direita é o individualismo radical, então eles não têm nenhum problema em abandonar aqueles que se tornam problema para eles”. De acordo com ele, a deputada está isolada e Bolsonaro pode ser o próximo.

No geral, Genoino aponta que o cenário atual representa uma oportunidade de encerrar o ciclo iniciado com o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. “Nós vamos encerrar isso saindo vitoriosos de 2026 ou não. […] No meu modo de entender, esses fatos vão facilitar a deslegitimação do bolsonarismo”, sugere.

O videocast Três Por Quatro vai ao ar toda quinta-feira, às 11h ao vivo no YouTube e nas principais plataformas de podcasts, como o Spotify.

Veja mais