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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, membro co...ver mais

A gente não quer só comida

Sabemos que continua sendo armado um verdadeiro tsunami, contra a soberania nacional

A gente não quer só comida. Mas entendemos bem a dimensão da luta dos excluídos, para alimentar a si e aos filhos. Enxergamos com tristeza aquelas pessoas catando o que comer, todos os dias, o tempo todo, numa guerra sem fim para reduzir o sofrimento dos seus. Nesse sentido compreendemos a dimensão e o valor dos que lutam contra isso, bem como a importância de seus papéis na construção deste fato magnífico: o Brasil está – de novo – fora do mapa da fome.  Pela segunda vez desde que estas avaliações são realizadas, e novamente em governos do PT, a FAO reconhece que o percentual de brasileiros em situação de insegurança alimentar é inferior a uma proporção de 2,5% de nossa população. Ainda precisamos avançar, é claro. Mas este alcance precisa ser comemorado. Afinal, ele indica para onde vamos. E resulta de apenas três anos de um governo de coalizão acossado por golpistas inseridos inclusive em diversos ministérios, e em sucessão ao desatino de dois presidentes entreguistas que nos colocaram sob o bloqueio do teto de gastos e diante daquelas escandalosas filas do osso.

Temos que reconhecer neste sucesso a sinalização de uma perspectiva de desenvolvimento que se caracteriza não pelo crescimento do PIB (embora ele também cresça), mas sim pelo avanço de nossos povos, rumo à superação de suas necessidades e à construção gradativa de autonomias emancipatórias. Este passo deve corresponder (assim esperamos) a um salto no sentido da expansão das liberdades acessadas por brasileiros que precisam, querem e merecem, oportunidades de participação na construção e usufruto das maravilhas relacionadas à uma existência digna. Se trata do Desenvolvimento como Liberdade, na conceituação desenvolvida por Amartya Sen. Ele exige acesso à comida, como também a moradias, ao trabalho, à saúde, à educação, à participação social, à uma vida decente e à construção de alianças que sustentem aquela realidade. Exige, portanto, uma consciência social ativa, em relação ao fato de que tudo isso, para todos e todas, dependerá de compromissos e projetos de solidariedade territorialmente organizados. Em outras palavras: de um projeto de país soberano.

E aqui vale destacar outras notícias desta semana. Com todas as dificuldades relativas à drenagem de recursos do executivo, por meio daquelas emendas impositivas nada transparentes do legislativo, também alcançamos o menor índice de desemprego de nossa história. Os recordes neste particular envolvem crescimento na população ocupada (58% -102 milhões de pessoas) e redução na população subutilizada (gente que não trabalha nem procura emprego – 14,4% – 16,5 milhões de pessoas). E o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado cravou recorde na série histórica: 39 milhões de pessoas. Em que pese o enxugamento de recursos que animam estes empregos, boa parte em função das taxas de juro mantidas em 15%, pelo Banco Central, avançamos. Ainda há muito caminho pela frente, sem dúvida. Mas está ficando claro para todos/as que nosso país vem sendo amarrado por traições em série, desenvolvidas por golpistas internos articulados com um fascismo internacional disfarçado de American Way of Life, que não é de hoje, e é contra nós. A privataria tucana, o petrolão, o mensalão, o impeachment da Dilma, a prisão do Lula, o 8 de janeiro, e agora o bullying trumpista…, só não enxerga nisso uma linha costurando a captura do Brasil, por interesses contrários ao nosso desenvolvimento, quem é muito canalha, muito tolo, ou não quer ver.

Neste particular, como o governo Lula não se dobrou à chantagem do tarifaço e vem articulando alianças que, para além do Brics, já contam com o apoio de setores do empresariado norte americano, Trump recuou. Agora, embora atacando Alexandre de Moraes, já deve estar prestes a abandonar os Bolsonaro. Aparentemente, e para se livrar deste abacaxi de repercussão internacionalmente negativa, ele vai – no máximo – oferecer garantia de abrigo temporário ao Eduardo e outros que eventualmente consigam fugir para lá.

Ao retirar quase 700 itens daquela ameaça de taxar em 50%, de tudo que o Brasil produz, Trump está reconhecendo que Lula enveredou pelo caminho certo, ao manter uma altivez digna e em exigir reciprocidade em termos de respeito . Aliás, para desconforto dos golpistas, até o NYT  já reconhece a importância disso.

Infelizmente, Trump manteve as taxações abusivas sobre as o café, os sapatos, os pescados, as frutas do Norte e do Nordeste, entre outros produtos nacionais. Com isso, se mantém as ameaças à estabilidade socioeconômica de atividades que ocupam milhões de brasileiros. As associações, cooperativas e pequenas agroindústrias envolvidas naquelas cadeias estão apavoradas e isso, ao mesmo tempo em que cria dramas econômico-sociais, se reverte politicamente contra os golpistas e em favor de ações do governo Lula, direcionadas à redução de dependências comerciais e à construção de novas parcerias internacionais. No plano político, Tarcisio já disse que por motivo de saúde não estará no próximo evento bolsonarista. Os presidentes da Câmara e do Senado (Motta e Alcolumbre) tratam se afastar da famiglia e Lula, identificado como líder da luta pela defesa da soberania nacional sobe tanto em aprovação popular que hoje seria eleito no primeiro turno. Mas esta luta ainda é incerta, e vai longe.

No momento, e voltando aos acontecimentos desta semana, o grande ponto está na recuperação do conceito de dignidade, como valor não negociável.

Parece que agora o país começa a entender que, a partir daquele posicionamento, podemos avançar em direção a um projeto de nação soberana. Um país onde as articulações e decisões políticas voltadas ao impedimento de avanços da maioria, em direção àquelas liberdades propostas por Amartya Sen, precisam e podem ser coletivamente enfrentadas/superadas.

Foi ou não foi, com alívio e alegria que vimos Lula nos reafirmar, dando, com a malícia de um Garrincha, aquele drible da vaca que evitou a ratoeira trumpista e levou ao desmascaramento dos traidores da pátria?

Ou ainda pode haver alguém que ignore a hipocrisia daqueles que vestindo uma camiseta USTRA VIVE falavam em direitos humanos, e liberdade?

Por isso, vale relembrar: a gente festeja a saída do mapa da fome, mas a gente não quer só comida. A gente quer respeito, dignidade e liberdades indicativas de crescente acesso dos brasileiros a todos os benefícios de um progresso includente.

Sabemos que continua sendo armado um verdadeiro tsunami, contra a soberania nacional. Para superá-lo precisaremos avançar nos rumos da Reforma Agrária Popular e da Vida Além do Trabalho, alimentando o  Plebiscito Popular e a consciência de que somos 99Porcento, entre outros elementos necessários à defesa do Brasil dos brasileiros.

Definitivamente: a gente não quer só comida.

Lembrete: É fundamental que em 2026 os senadores eleitos nos respeitem e mereçam nosso respeito. Fora Golpistas! Sem anistia aos traidores, sem tolerância com os vendilhões da pátria.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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