A ativista Ceres Hadich, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), defende que a luta pela reforma agrária não pode ser enfrentada apenas pelo campo e cobra mais firmeza do governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT) para avançar com as pautas do movimento. Segundo ela, o apoio popular é essencial. “A carta é, de fato, um convite ao diálogo junto da sociedade […] para trazer mais gente para se sensibilizar e defender a reforma agrária no nosso país”, diz ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato.
Hadich se refere à carta“Lula, cadê a Reforma Agrária?”, divulgada em 21 de julho pelo MST, endereçada à sociedade. A dirigente lembra que o documento já foi entregue ao presidente e reforça que o envolvimento da população é central para romper os bloqueios institucionais. “Aprendemos a não fazer luta sozinhos, a não fazer luta só no campo e para o campo”, fala.
Hoje, mais de 122 mil famílias vivem acampadas à espera de terra, e outras 400 mil já assentadas enfrentam dificuldades para acessar políticas públicas básicas. “A reforma agrária impacta diretamente no campo da produção, das relações com os bens naturais e também beneficia quem está na cidade com alimentos saudáveis”, afirma a diretora.
Lula é aliado, mas instituições não têm estrutura
Apesar de reconhecer Lula como “grande aliado” e interlocutor da pauta dentro do governo, Hadich critica a falta de estrutura do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a paralisia do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “O MDA foi recriado, mas sem estrutura, sem orçamento. O Incra tem um orçamento absolutamente abaixo do necessário para criar novos assentamentos”, lamenta.
Segundo ela, a lentidão para implementar políticas é resultado da desestruturação do Estado e de um Congresso dominado por interesses antipopulares, como o “PL da Devastação” e um projeto que permite ação da polícia sem ordem judicial em ocupações. Na sua avaliação, o Legislativo tem atuado como um dos principais entraves à reforma agrária, avançando com projetos que ela classifica como “anti-povo” e “inconstitucionais”.
“Essa máxima de dizer que o Congresso é inimigo do povo é de fato uma concretude, uma realidade. Isso está cada vez mais claro quando temos visto o comportamento desse Congresso muito atrelado aos interesses do mercado, das bancadas que eles representam, do boi, da Bíblia…”, aponta.
Para a dirigente, há uma “correlação de forças bastante desfavorável” e uma ofensiva articulada contra os direitos sociais. “Hoje é um pacote de medidas anti-reforma agrária, antipopulares para o campo […] que eles têm buscado passar junto com a boiada nessas aprovações que eles fazem nas madrugadas, a maioria em caráter de urgência, às escondidas, sem debate dentro do Parlamento brasileiro.”
“O povo precisa abrir os olhos para isso e entender de fato de que lado e a quais interesses esse Parlamento serve para também poder fazer o contraponto não só nas urnas, mas também nas ruas, se colocando contra essas medidas antipopulares e antissociais do Congresso”, convoca.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.