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Países ricos falham em apresentar metas climáticas e agravam crise ambiental, alerta especialista

Com prazo em setembro, atualização de compromissos é urgente para sucesso da COP30 em novembro, diz Cinthia Leone

As chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), compromissos de cada país para reduzir emissões e enfrentar as mudanças climáticas, são a base do Acordo de Paris (2015). Segundo Cinthia Leone, coordenadora de diplomacia climática do ClimaInfo, os países ricos, como Canadá e os integrantes da União Europeia, falham em cumprir esse compromisso e atrasam o avanço global O atraso se destaca em um momento decisivo para as negociações climáticas, que devem culminar na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém (PA).

“A maior parte dos países desenvolvidos entregou metas fracas ou nem apresentou suas NDCs”, alerta Leone ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato. A União Europeia, que foi protagonista na criação do acordo, ainda não colocou sua meta oficialmente “e 27 países estão em silêncio”, segundo ela.

Essa ausência de compromissos concretos gera, na visão da especialista, “uma lacuna enorme” na diplomacia climática, especialmente diante do prazo final previsto para setembro, quando os países devem atualizar suas metas antes da COP30.

Leone destaca ainda que o financiamento climático, essencial para que países mais pobres possam agir, continua insuficiente. De acordo com ela, o acordo mais recente prevê 300 bilhões de dólares, longe dos 1,3 trilhão pleiteados, e “não está claro quem paga, como paga, nem a transparência do processo”. “É uma questão econômica e geopolítica muito complexa”, aponta.

Desmonte nos EUA agrava crise

Para a coordenadora, a resistência das grandes indústrias e o enfraquecimento de estados reguladores, como visto nos Estados Unidos com o governo do presidente Donald Trump, complicam ainda mais o cenário. “As indústrias que mais agravam a mudança climática precisam de estados fracos para continuar existindo”, afirma, citando o agronegócio e as big techs.

Ela explica que as indústrias mais poluentes precisam de governos frágeis, incapazes de criar leis ambientais eficazes e fiscalizar as atividades nocivas. Nos EUA, além do desmonte das instituições ambientais, houve uma retirada do país do Acordo de Paris, o que, na sua avaliação, impacta negativamente a diplomacia climática global. “É algo realmente sem precedentes e que vai ter um impacto não só nos Estados Unidos, mas globalmente”, alerta.

China pode “sinalizar para onde economia do mundo caminha”

Enquanto isso, países como a China prometem metas mais ambiciosas, abrangendo todos os setores poluidores. “Se isso se concretizar, será um documento muito poderoso, sinalizando para o mundo para onde a economia caminha”, avalia a especialista.

Leone destaca que a China é hoje o maior poluidor mundial, mas também líder na transição energética, financiando avanços tecnológicos importantes para energias limpas e mobilidade elétrica. Segundo ela, o país tem uma estratégia de longo prazo e vem se posicionando com cautela diante das mudanças globais.

A especialista acrescenta que a China considera o Brasil um parceiro estratégico nessa agenda, com investimentos como a fábrica de ônibus elétricos da BYD no país. Desde 2015 em Campinas (SP), a BYD tem capacidade para produzir centenas de chassis de ônibus elétricos por ano. A empresa chinesa já entregou 300 veículos do tipo no Brasil.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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