Nesta quarta-feira (13), dia em que Fidel Castro completaria 99 anos, Cuba iniciou as comemorações para o centenário do líder revolucionário. Para falar sobre como a Revolução Cubana segue reverberando no país, o podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato, conversou com Stephanie Weatherbee Britto, membro da Assembleia Internacional dos Povos (AIP), e de Gabriel Vera Lopes, correspondente do Brasil de Fato em Cuba.
Para eles, a participação popular na política cotidiana e a solidariedade internacional continuam sendo pilares da Revolução Cubana, vitoriosa em 1º de janeiro de 1959 e no poder desde então.
O país enfrenta desde 7 de fevereiro de 1962 um bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, considerado o mais longo regime de sanções da história contemporânea. “Não tem nenhum país do mundo que conseguiria driblar o nível de estrangulamento econômico que Cuba está enfrentando”, afirma Britto. Apenas em 2022, as restrições representaram um prejuízo de US$ 4,87 bilhões ao país.
Mesmo diante das dificuldades, a solidariedade com outros povos continua sendo uma marca do país, indica a integrante da AIP. “Cuba tem sido excepcionalmente solidária com o mundo inteiro. Tanto nas brigadas de médicos, tanto na formação de médicos, como em outras questões, em momentos em que parecia incrível que um povo tão limitado na sua capacidade para enfrentar os seus próprios problemas, conseguia prestar solidariedade para outros povos”, lembra.
Entre os exemplos está a participação no programa Mais Médicos, lançado pelo governo federal em 2013, que levou milhares de profissionais cubanos a atuar em comunidades brasileiras com escassez de atendimento. “Cuba representa pro mundo inteiro essa capacidade de resistência do povo que não tem comparação hoje no mundo”, observa Britto.
O repórter Gabriel Lopes destaca que essa postura é motivo de orgulho para a população do país. “Os cubanos não compartilham o que sobra, compartilham o que têm. […] Nós enviamos médicos e não armas para outro lugar. Eu acho que isso é um tesouro da sensibilidade de Cuba”, aponta.
Parcerias econômicas
Para tentar driblar os desafios econômicos, Cuba tem buscado ampliar relações com outros países. Em 2023, tornou-se país parceiro do Brics (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e mais seis países). Britto avalia que o bloco pode ajudar, mas que o principal seria ampliar a integração latino-americana.
“É muito lamentável, e é importante frisar, que unicamente dois países têm prestado verdadeiro apoio material para Cuba nessa crise, que é a Venezuela, principalmente, e o México, em menor medida”, cita, apontando que governos progressistas da região “ainda sofrem de um medo de se ver associados, tanto a Cuba como a Venezuela”.
“O que precisa é que as nações latino-americanas prestem uma solidariedade real para Cuba […] Cadê essa integração que enfrenta o império como um bloco unificado? Está faltando”, critica.
Mobilização social
A mobilização social interna também é apontada por Britto como fundamental na resistência. Ela afirma que “tem muita mobilização popular em Cuba em defesa do governo” e que há um “apagamento midiático sobre isso”.
Lopes acredita que a juventude desempenha papel importante nesse processo. “Cada geração tem que encontrar o que significa para ela a revolução, e que podem e que querem contribuir na revolução”, sugere. Para ele, o desejo de preservar as conquistas históricas é forte, sobretudo entre setores mais pobres e minorias.
Para ambos, o engajamento político interno e a solidariedade internacional de Cuba mantêm vivo o projeto iniciado há 66 anos. “Nós somos o povo que ajuda e não atira bombas nos outros povos”, resume o jornalista.
O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11h no Spotify e YouTube.