O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem um evento marcado, neste sábado (16), em São Paulo, para anunciar sua pré-candidatura à presidência do Brasil, que será disputada em 2026. Mas, enquanto o político acena para o posto do executivo, as críticas sobre a sua gestão no estado sobressaem entre os mineiros.
Diversos setores enfrentam desafios durante a sua administração, da saúde à segurança pública. Segundo lideranças populares e parlamentares progressistas, o gestor terá dificuldades em se estabelecer como um nome forte nas eleições devido à sua falta de expressividade em relação aos nomes nacionais.
“O Zema é, de fato, entre os representantes da extrema direita, aquele com maior fragilidade e com mais dificuldade de apresentar um discurso coerente”, avalia a deputada federal Ana Pimentel (PT).
Para ela, além de não ter nada positivo para apresentar, no debate ideológico, o governador tem se alinhado com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inclusive com promessas de indulto ao político, que é julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado e está em prisão domiciliar por desrespeitar as decisões judiciais da Corte.
“Ele tem uma postura antidemocrática e autoritária. Zema despreza o estado e os servidores públicos. Despreza o que é público e democrático. Por isso, ele não tem condições de se colocar como candidato a presidente. Não tem nem seriedade suficiente”, alerta a parlamentar.
Efeitos de sua política causam desafios
Com Zema, a dívida de Minas com a União cresceu mais de 50%. A sua gestão também é acusada de tentar fechar hospitais em Belo Horizonte, enquanto atrasa a entrega de unidades no interior do estado.
Apesar de ter aumentado seu salário em quase 300%, servidores seguem denunciando descaso: a diferença entre salário de Zema e de servidores ultrapassa 4.300%, conforme denunciou o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG).
Além disso, com a tentativa de aderir ao Plano de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag), alternativa para quitar a dívida com o governo federal, Zema colocou empresas públicas como a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) para federalização. Cerca de 343 imóveis e autarquias, como a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e a Empresa Mineira de Comunicação (EMC), também apareceram na proposta.
Movimentos populares, sindicatos e parlamentares, no entanto, argumentam que essa, na verdade, é uma estratégia para privatizar esses bens públicos do estado. Esses e outros desafios são apontados constantemente pela população.
Ao mesmo tempo, o governador tenta conquistar o eleitorado de Jair Bolsonaro, com apoios públicos ao ex-presidente. Mas, segundo a deputada federal Ana Pimentel, a transferência de votos é complexa.
“A referência é o Bolsonaro, mas Zema é uma cópia muito desajeitada do Bolsonaro e ele terá dificuldade, apesar de ele ter os mesmos pensamentos, a mesma ideologia, defender o mesmo projeto de país, o mesmo projeto para o estado. Mas ele tem mais dificuldades porque não tem a entrada no setor evangélico, que é um setor importante também nessas construções mais ideológicas”, lembra.
Inexpressividade é reflexo de má gestão
Para Emerson Andrada, coordenador-geral do Sindicato dos Eletricitários em Minas Gerais e integrante do Comitê Fora Zema, o que pesa contra o governador é o consenso da população sobre sua “má gestão”.
“Ele não tem significado na disputa política nacional. Mas se ele começar a adquirir algum significado, começa-se a discutir o governo dele. E aí vai ficar muito óbvio, muito nítido, que ele não tem o que entregar. Ele não tem o que entregar na pauta progressista, ele não tem o que entregar na pauta do dia a dia do povo mineiro e ele não tem o que entregar na pauta liberal. Então, ele vai dialogar com quem?”, questiona o sindicalista.
“Hoje, se ele ainda tem alguns seguidores na política, é por força da cadeira que ele assenta e da caneta que ele mantém na mão. Quando ele não tiver nem esse assento e nem essa caneta, a maior probabilidade é que a insignificância política dele aflore e que o governador Romeu Zema seja relegado ao esquecimento”, argumenta.
Jogo da extrema direita
Para José Luiz Quadros, professor de direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a pré-candidatura, Zema tenta se lançar aos grandes empresários e setores da elite econômica. No entanto, o especialista acredita que o governador ainda é um candidato pouco preparado.
“Principalmente dentro do jogo da extrema direita, que joga com o emocional, a propaganda, o uso de fake news, com a inteligência artificial. Isso faz com que as pessoas cada vez mais votem conduzidas por esse jogo e não pela figura do próprio candidato. Zema não é o nome mais forte nesse âmbito”, defende.
O professor explica ainda que Zema tem uma imagem regionalizada, focada em Minas Gerais, com pouca capilaridade ao redor do Brasil, o que torna o seu desafio como presidenciável ainda maior.
“O pouco conhecimento que ele tem, o apelo e a imagem que ele construiu, é regional. Isso pode ser desmontado, mas eu acho que não teria porquê, se eles podem se sobressair com outro candidato”, observa.
O outro lado
O Brasil de Fato MG entrou em contato com o governo para comentar as denúncias e aguarda respostas. A reportagem será atualizada quando houver posicionamento.