A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou nesta terça-feira (19) que os Estados Unidos usarão “toda a força” contra a Venezuela. A declaração vem na esteira da informação dada pela agência Reuters de que os EUA enviaram três navios de guerra para a costa da Venezuela. O governo venezuelano chamou a ação de “desespero estadunidense em meio a crise que vive”
“O presidente Trump tem sido claro e consistente. Ele está preparado para usar todos os elementos e o poder estadunidense para impedir que as drogas cheguem ao nosso país e para levar os responsáveis à Justiça. Maduro não é um presidente legítimo. Ele é um fugitivo e chefe de um cartel já acusado nos EUA por tráfico de drogas”, disse Leavitt.
Os EUA já teriam enviado três navios equipados com mísseis guiados à região. De acordo com a publicação da agência, eles chegarão entre quarta (19) e quinta-feira (20).
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela disse que a atitude “desesperada” de Washington é reflexo do “fracasso das políticas na região”.
“A Venezuela vê claramente o desespero do governo estadunidense, que recorre a ameaças e difamações contra o nosso país. As acusações de Washington contra a Venezuela por tráfico de drogas revelam sua falta de credibilidade e o fracasso de suas políticas na região. Enquanto Washington ameaça, a Venezuela avança firmemente em paz e soberania, demonstrando que a verdadeira eficácia contra o crime se alcança respeitando a independência dos povos”, diz o texto.
Ainda de acordo com a chancelaria, desde a saída da Agência Antidrogas dos EUA (DEA) da Venezuela, o país conseguiu avançar no combate ao crime organizado e no desmantelamento de redes de tráfico. O governo venezuelano afirma que esse movimento representa uma ameaça para a região.
“Essas ameaças não afetam apenas a Venezuela, mas também ameaçam a paz e a estabilidade de toda a região, incluindo a Zona de Paz declarada pela Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], um espaço que promove a soberania e a cooperação entre os povos latino-americanos. Toda declaração agressiva confirma a incapacidade do imperialismo de subjugar um povo livre e soberano”, informou Caracas.
A resposta não se deu só em um comunicado. O governo já havia pedido a mobilização de 4,5 milhões de milicianos do país para defender dos ataques estrangeiros. A milícia bolivariana (brigadas populares) é uma organização formada em 2009 composta por civis e militares aposentados em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em seus diferentes contextos (urbano e rural). A milícia passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.
Ameaças elevam o tom
Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que estava enviando tropas para o sul do mar do Caribe a fim de realizar operações militares na região. Ele disse que o objetivo era prender traficantes latino-americanos e relacionou um desses grupos a Maduro.
Sem apresentar provas, o estadunidense reforçou a narrativa da Casa Branca de que Maduro é chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa. Em 25 de julho, o Departamento de Estado dos EUA classificou o grupo como um grupo terrorista internacional. Rubio afirmou que o tráfico de drogas é uma ameaça à segurança estadunidense e novamente chamou o governo de Maduro de “organização criminosa”.
Na ocasião, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, também afirmou que a Marinha venezuelana estaria destacada na costa do país.
A escalada das ameaças estadunidenses começou ainda durante as eleições municipais venezuelanas de 27 de julho. Na ocasião, o vice-presidente de Defesa e Soberania da Venezuela, Vladimir Padrino López, disse que as Forças Armadas venezuelanas identificaram o voo de uma aeronave de inteligência RC-135 da Força Aérea dos EUA “orbitando aproximadamente 80 milhas ao norte da Venezuela”.
Na semana passada, os EUA anunciaram o aumento para US$ 50 milhões (cerca de R$ 270 milhões) na recompensa por informações que levem à prisão do presidente Nicolás Maduro. A mensagem foi prontamente respondida pelo governo venezuelano. O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, disse que o anúncio é “uma operação de propaganda política ridícula e uma piada”.